Folha de S.Paulo

Turistas encaram frio e ventania para conhecer Islândia no inverno

Estação é ideal para esquiar e escalar geleiras, mas requer paciência e planejamen­to do viajante

- DIOGO BERCITO

País faz campanha para divulgar atrações nessa época do ano, que ainda recebe a menor parcela de visitantes

A viagem à Islândia começou em novembro de 2017 com um escorregão deste repórter, caindo de bunda na rua. Os caminhos de Reykjavik, capital do país europeu, estavam cobertos por gelo. Era difícil andar.

O clima recrudesce­u ainda mais com a chegada do inverno, em 21 de dezembro: vie- ram as nevascas, a luz do sol foi reduzida a quatro horas diárias e a temperatur­a caiu para -7 °C, com sensação térmica mais baixa devido aos ventos insistente­s.

A inclemênci­a da natureza, no entanto, não afasta os turistas. Pelo contrário: parte deles visita a Islândia pensando nesses extremos do tempo, tendo em vista as pistas de esqui, as escaladas nas geleiras e a cereja do bolo de neve: um passeio em busca da aurora boreal.

O país tem investido nesse setor específico, dentro de sua estratégia mais ampla para incentivar o turismo e, assim, salvar sua economia arruinada. A Islândia quebrou durante a crise de 2008 e se reinventou em parte pelo recente fluxo de visitantes.

O número de turistas cresceu 39% entre 2015 e 2016, chegando a 1,8 milhão de pessoas em 2017. A população do país, em comparação, é de cerca de 330 mil habitantes.

Esse incremento foi significat­ivo nos meses do inverno. Se o gélido período correspond­ia a 23% do total de turistas em 2003, hoje ele vale 29%. A parcela do verão foi de 47% a 40%.

“Há cinco ou dez anos, o turismo era uma indústria que não tinha atividade contínua durante todo o ano”, diz Áshildur Bragadótti­r, diretora do consórcio público Visit Reykjavik. “Passamos a fazer campanha sobre as possibilid­ades do inverno.”

Mas a propaganda do idílio islandês como destino de inverno tem suas ressalvas. O país de fato oferece opções atrativas no frio, que podem fazer dessa viagem um passeio inesquecív­el. O clima porém, requer uma preparação extraordin­ária e paciência.

A reportagem da Folha, por exemplo, agendou duas vezes uma escalada em paredes de gelo no sul do país, um dos chamarizes do período. Em ambas, ventos fortes cancelaram o passeio de R$ 800. O valor foi devolvido, mas a mudança de planos significou dias perdidos na viagem.

“Somos a capital mais ao norte o mundo, e isso significa que o inverno pode ser duro e o clima pode mudar inesperada­mente”, diz Bragadótti­r. A Islândia está quase no círculo polar e só não é ainda mais fria devido às generosas correntes regionais.

“Os turistas precisam estar abertos a fazer outras coisas além daquelas que tinham planejado”, afirma Bragadótti­r. Por exemplo, aproveitar para visitar as atrações culturais de Reykjavik —que conta com um curioso museu dedicado ao pênis, tanto animal quanto humano. PORTO SEGURO Reykjavik é a base ideal para as aventuras de inverno na Islândia porque, no caso de estradas serem fechadas pela neve, o turista conta ao menos com a estrutura dessa capital de 120 mil habitantes, ou 230 mil na área urbana, e continua tendo o acesso ao aeroporto se quiser fugir.

A cidade, com ares de vilarejo, é conhecida por seu principal marco arquitetôn­ico: a igreja Hallgrímsk­irkja, que começou a ser erguida em 1945. Com 75 metros de altura, é um dos pontos mais altos desse país.

A parada de ônibus número 8, localizado diante da igreja, é um dos locais de encontro para diversos dos passeios de inverno. Turistas se amontoam em um de seus lados para se proteger do forte vento e da neve enquanto esperam o transporte buscá-los para os passeios, às vezes durante a madrugada.

A rua que desce rumo ao porto, saindo da porta da igreja, concentra diversos dos cafés da cidade —refúgios para retirar luva, touca e cachecol e tomar algo quente, como fazem os locais.

Caso você tenha se esquecido desse enxoval de frio, essenciais para a viagem, uma opção é imitar a população local e aderir à popular marca 66° North. A touca clássica, como usam os tradiciona­is pescadores islandeses, vale R$ 95 —os preços são em geral azedos nessa ilhota.

Preste atenção também em como os moradores de Reykjavik andam. Caminhar na neve é agradável, com o pé afundando na massa macia, desde que o calçado seja a prova d’água. O problema é o gelo —a parte brilhante e dura no chão, inconfundí­vel. Para pisar nele, é preciso imitar um pinguim: ir com passos lentos e curtos, sem separar muito as pernas.

Assim, quem sabe, os futuros turistas possam evitar os escorregõe­s que marcaram a viagem da Folha.

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Hallgrímsk­irkja, igreja luterana que virou marco arquitetôn­ico de Reykjavik
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 ??  ?? Cachoeira Gullfoss, a 110 quilômetro­s da capital, Reykjavik
Cachoeira Gullfoss, a 110 quilômetro­s da capital, Reykjavik

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