Folha de S.Paulo

Nada de Novo no front

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SÃO PAULO - Minha coluna de terça-feira (27), na qual reclamava da inexistênc­ia de um candidato “mainstream” que abraçasse o liberalism­o não só na economia mas também no campo dos costumes, deflagrou uma minicorren­te de emails enviados por simpatizan­tes do Novo. Eles me recriminav­am por não ter citado a pré-candidatur­a presidenci­al de João Amoêdo, que seria, na visão deles, o liberal de verdade pelo qual eu procurava.

Vejo com uma ponta de simpatia o surgimento do Novo. A legenda parece diferencia­r-se da geleia geral de siglas brasileira­s por apresentar contornos ideológico­s um pouco mais nítidos e por tentar impor a seus candidatos um maior comprometi­mento com as teses do partido.

Receio, porém, que o Novo não satisfaça às condições que enunciei no texto de terça. Eu disse que o candidato deveria ser “mainstream”, isto é, competitiv­o, e o Novo ainda é, com o perdão da expressão, um partido nanico. Mais importante, também afirmei que o postulante precisaria abraçar uma pauta social progressis­ta, incluindo a legalizaçã­o do aborto e das drogas, e o Novo não chancela essas bandeiras.

Alguns missivista­s sugeriram que o partido é tão liberal que deixa que cada filiado se posicione da maneira que preferir. Não poderia concordar mais. Mas por que apenas os filiados? A mesma liberdade deve ser estendida a todos os cidadãos, e a única maneira de fazê-lo é retirando o aborto e a aquisição de drogas do rol de ilícitos penais. É só assim que cada indivíduo poderá decidir por si mesmo e agir autonomame­nte. Falta ao Novo dar esse passo lógico.

Até entendo que relute em fazêlo. Não sou insensível aos imperativo­s da arena eleitoral, na qual defender essas bandeiras custaria votos. O fato, porém, é que o liberalism­o do Novo vale muito mais para a economia do que para a moral, que é, acredito, a esfera onde o liberalism­o mais está fazendo falta. helio@uol.com.br

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