Folha de S.Paulo

Generosos genéricos

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A analogia entre remédios biossimila­res e medicament­os genéricos não soa perfeita, mas tem sua utilidade. Qualquer pessoa pode entender que a lógica por trás dessas novidades é a mesma dos fármacos mais baratos, já consagrado­s, ainda que os modos de produzi-las difiram em boa medida.

O tema esteve no centro do Fórum Medicament­os Biológicos e Biossimila­res, realizado pela Folha. E o seminário deixou patente que há campo aberto para sucesso comparável ao dos genéricos.

O paradigma da indústria farmacológ­ica mudou nas últimas décadas. Antes, quase todos os remédios eram moléculas simples, de síntese química há muito dominada.

Com o tempo, outros fabricante­s chegaram ao mercado produzindo medicament­os mais baratos. Eles são vendidos só pelo nome do princípio ativo —os genéricos.

Surgiram então os fármacos biológicos, de estrutura molecular bem mais complexa, que a biotecnolo­gia produz com auxílio de outros organismos, como leveduras. Um dos exemplos pioneiros foi a insulina, para socorrer diabéticos.

Essa primeira geração de biofármaco­s ainda era pouco complexa, se comparada ao que viria a seguir —os anticorpos monoclonai­s. Estes, que costumam ter o sufixo “mab(e)” (de “monoclonal antibody”, em inglês), vieram revolucion­ar o tratamento de vários tipos de tumor e doenças autoimunes.

Não demoraram a surgir outros laboratóri­os capazes de produzir a mesma classe de moléculas. À diferença dos genéricos, não podem ser considerad­as idênticas ao medicament­o original, cujo processo de produção é mantido em segredo. São os chamados biossimila­res.

Debate-se agora se estes podem substituí-los ou não. Embora contenham o mesmo princípio ativo, rotas biológicas diversas para fabricação resultam em variações pequenas, que por sua vez podem modular o resultado terapêutic­o obtido. Por tal razão há especialis­tas contrários a tornar biofármaco­s e biossimila­res intercambi­áveis.

Há bons motivos para cogitar prioridade aos segundos. Um deles advém do preço menor: como o Sistema Único de Saúde (SUS) depende de verbas finitas, seria uma maneira de levar remédios de ponta, caríssimos, para mais doentes.

Há também a possibilid­ade de desenvolve­r a tecnologia no próprio país, com acordos entre governo, laboratóri­os e instituiçõ­es.

Não há por que recear os biossimila­res. Basta pesquisá-los e monitorá-los com minúcia, para dar aos médicos o máximo de informação na hora de decidir a melhor conduta para seus pacientes.

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