Folha de S.Paulo

Delator diz que presidente do Peru recebeu da Odebrecht

Keiko Fujimori e três ex-presidente­s também teriam sido beneficiad­os, afirma Jorge Barata; os cinco negam

- FLÁVIO FERREIRA

O ex-dirigente da empreiteir­a Odebrecht no Peru Jorge Barata afirmou ao Ministério Público que a construtor­a fez repasses em caixa dois para campanhas eleitorais do atual presidente peruano Pedro Pablo Kuczynski, de outros três ex-chefes do Executivo do país e da líder opositora Keiko Fujimori.

De acordo com Barata, que ocupou o cargo de diretor-superinten­dente da Odebrecht no Peru, a campanha de Kuczynski recebeu US$ 300 mil da empresa no ano de 2011, quando ele ficou em terceiro lugar no pleito presidenci­al.

Também nas eleições de 2011, teriam sido beneficiár­ios de recursos ilegais as campanhas do vencedor, Ollanta Humala (US$ 3 milhões), de Keiko Fujimori (US$ 1,2 milhões) e do ex-presidente Alejandro Toledo (US$ 700 mil).

Ocorreu ainda financiame­nto eleitoral ilícito para o ex-presidente Alan García quando ele venceu a eleição, em 2006, no valor de US$ 200 mil, segundo Barata.

O ex-dirigente da Odebrecht no Peru prestou depoimento na terça (27) e na quarta-feira (28) na Procurador­ia Regional da República em São Paulo, no âmbito de uma cooperação jurídica internacio­nal entre as autoridade­s peruanas e brasileira­s.

Na terça, o executivo falou do suposto repasse a Humala, preso sob a suspeita de ter usado valores recebidos da Odebrecht para fim pessoal.

O criminalis­ta Leonardo Massud, brasileiro integrante da equipe de advogados de Humala, afirmou que a defesa do ex-presidente peruano foi prejudicad­a em razão de o Ministério Público brasileiro não ter permitido acesso à delação premiada de executivos da Odebrecht, entre eles Barata, relacionad­a a crimes ocorridos no Peru. O processo está sob sigilo no STF (Supremo Tribunal Federal).

De acordo com o advogado peruano Cézar Nakazaki, os valores citados por Barata nunca chegaram a Humala.

Na quarta, o executivo relatou os repasse a Kuczynski, Toledo, García e Keiko.

Em uma conta em uma rede social, o presidente peruano negou ter recebido doações da empreiteir­a. Keiko também rejeitou a suspeita.

Em dezembro, PPK, como é conhecido, foi alvo de um processo de remoção do cargo no Congresso após a revelação de que uma empresa dele recebeu valores da Odebrecht, mas sobreviveu à votação.

O criminalis­ta Carlos Kauffmann, defensor de Barata, disse que os repasses não tiveram ligação com atos de corrupção ou favorecime­ntos à Odebrecht. “As contribuiç­ões realizadas não tiveram contrapart­idas”, disse.

Em nota, a Odebrecht afirmou que está colaborand­o com as autoridade­s dos países em que atua e “já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas e está comprometi­da a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas”.

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Joaquin Sarmiento-27.fev.18/AFP Pedro Pablo Kuczynski, presidente do Peru

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