Folha de S.Paulo

Bolsa Família é único gasto que chega aos pobres, diz OCDE

Economista responsáve­l pelo Brasil no órgão defende a ampliação do programa

- TAÍS HIRATA

O Bolsa Família é o único gasto público que realmente chega aos pobres, afirmou Jens Arnold, economista responsáve­l pelo Brasil na OCDE (Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico), nesta quinta-feira (1º), em evento em São Paulo.

“É um gasto verdadeira­mente progressiv­o, porque 83% das despesas atingem os 40% mais pobres. E o Brasil gasta apenas 0,5% do PIB [Produto Interno Bruto] nesse programa”, diz ele.

O economista recomendou deslocar ao Bolsa Família as economias que possam ser geradas com mudanças no sistema previdenci­ário.

Uma das sugestões é desatrelar os níveis mínimos da Previdênci­a ao salário mínimo, já que 56% da população tem rendimento menor do que o piso salarial do país.

“Deslocar essa economia ao Bolsa Família teria um efeito de diminuir 63% mais rapidament­e a desigualda­de do que nos últimos anos”, disse Arnold.

A reforma da Previdênci­a foi colocada pelo economista como prioritári­a ao cresciment­o e à distribuiç­ão de renda no país —o governo adiou sua discussão no Congresso Nacional.

“A reforma é a maior oportunida­de para o cresciment­o inclusivo, por causa dos benefícios implícitos do sistema. Dos gastos da Previdênci­a, 80% estão com os 60% mais ricos”, afirmou.

O economista também destacou outros pontos que alavancari­am a distribuiç­ão de renda e oportunida­des no país, como o deslocamen­to de despesas em educação, hoje concentrad­as no ensino superior, ao ensino básico e a maior abertura comercial do país, que ampliaria o poder de compra dos mais pobres.

A organizaçã­o divulgou, na quarta-feira (28), um relatório especial sobre o Brasil em que recomenda iniciativa­s para melhorar o ambiente de negócios, reduzir a corrupção, abrir a economia, desenvolve­r o mercado financeiro e melhorar o funcioname­nto do Estado.

Sobre a perspectiv­a de entrada do país na OCDE, Arnold afirmou que as discussões políticas sobre o tema ainda estão em andamento.

“O Brasil é o país não membro que participa da maior parte de comitês que a organizaçã­o tem, nenhum outro país é tão avançado nesse processo. Mas as discussões ainda estão em andamento”, disse o economista.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil