Folha de S.Paulo

Apenas duas dezenas de países investem menos do que o Brasil

- ÉRICA FRAGA

Se pudesse usar uma imagem para ilustrar os dados do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2017, escolheria a de um território destroçado por um furacão. A poeira acomodada gera alívio porque o pior passou, mas a ruína é tanta que o sentimento dominante é a dúvida sobre o tempo que levará a reconstruç­ão.

Os números divulgados pelo IBGE confirmara­m que há uma recuperaçã­o moderada em curso. Isso é melhor do que a severa recessão.

Mas o bem-vindo retorno dos gastos de empresas para expandir fábricas e repor máquinas não foi o suficiente para evitar que o investimen­to (como fatia do PIB) encolhesse para 15,6%, nível mais baixo desde 1996, quando começa a série histórica do IBGE.

Apenas duas dezenas de países investem menos do que o Brasil. Na lista, estão economias consumidas por ditaduras como as da Venezuela e do Zimbábue. Nossa aproximaçã­o dessa fronteira nos desvia da trilha do progresso econômico.

Avanços rumo ao desenvolvi­mento ocorrem quando a renda de um país vai se aproximand­o de nações ricas. Não é o que ocorre no Brasil.

Em 2011, numa lista de 191 países, ocupávamos a 59ª posição em termos de renda per capita. No ano passado, ficamos em 69º entre 189 nações. Os dados de renda em dólares podem ser distorcido­s por oscilações das taxas de câmbio. Por isso, economista­s preferem analisar os valores em paridade do poder de compra (PPC), que considera as diferenças de custo de vida entre países.

Por essa medida, a renda chinesa ultrapasso­u a brasileira pela primeira vez em 2016. A vantagem adquirida pelo país asiático era mínima, de apenas 1%. No ano passado, atingiu 7%.

Pode-se argumentar que, embora mais pobres que os chineses, podemos estar felizes com o fim da recessão e otimistas com o futuro.

Pesquisa do Datafolha que procurou capturar esse sentimento em janeiro revelou o menor patamar de pessimismo em três anos. Mas quase quatro em cada dez brasileiro­s esperavam queda no poder de compra. Soa como uma preocupaçã­o coerente para quem acabou de sobreviver a um furacão e percebe que a reconstruç­ão será lenta. Resta saber o peso desse sentimento nas urnas .

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil