Folha de S.Paulo

Mercado mira em 90 milhões de empregados

- FLAVIA LIMA DE SÃO PAULO MARIANA CARNEIRO ENVIADA ESPECIAL AO RIO NICOLA PAMPLONA

DO RIO

As expectativ­as para o PIB (Produto Interno Bruto) de 2018 convergem para uma expansão ao redor de 3%, muito marcada pela alta do consumo e dos investimen­tos.

Há quem estime que a economia possa crescer até mesmo acima disso, a depender da reação esperada para o investimen­to, que volta a dar as caras após um tombo de quase 30% desde 2014.

Olhando a economia como um todo, as projeções se aceleram após um último trimestre frustrante, que fez com que o PIB encerrasse 2017 em alta de 1% —a primeira após dois anos de queda.

“Não é pouco. A saída de recessões como essa em geral apontam cresciment­os fortes em um primeiro momento, o que já aconteceu em 2017, quando deixamos um PIB negativo de 3,5% em 2016 para alta de 1% em 2017. Foi uma virada de 4,5 pontos percentuai­s”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da consultori­a MB Associados.

Para o investimen­to, a expectativ­a é de alta em torno de 5%, embora um grupo menor veja espaço para um número mais próximo de 10%. Nesse caso, a surpresa positiva com relação ao PIB poderia ser maior.

A MB Associados, por exemplo, prevê avanço de 3,3% para o PIB deste ano, com alta de 3,6% para o consumo das famílias e de 8% para o investimen­to. Para o Banco Fibra, que está na ponta mais otimista com previsão de alta de 4% para o PIB, o investimen­to sobe um pouco acima de 7%.

No grupo dos mais comedidos, Bráulio Borges, economista sênior da LCA Consultore­s, diz que os investimen­tos sobem 5% neste ano, ajudado, entre outros fatores, também por gasto público.

Segundo Borges, o investimen­to público sobe em todo ano de eleições desde 1998, mas havia uma expectativ­a de que isso pudesse não se repetir neste ano em razão dos sinais do governo de que manteria o processo de consolidaç­ão fiscal.

Algumas variáveis mudaram esse quadro, como o espaço de quase R$ 80 bilhões existente para atingir o teto de gastos e a meta fiscal bastante folgada— que prevê para o governo um déficit primário de R$ 159 bilhões neste ano, estabeleci­do quando as expectativ­as de recuperaçã­o da economia eram bem mais incertas.

Diante disso, Borges diz que existe espaço para elevar os gastos em investimen­to entre R$ 30 bilhões e R$ 40 bilhões neste ano, o que equivaleri­a algo próximo a 0,5 ponto do PIB. “A maior dúvida não é se o governo quer gastar essa folga, mas se ele terá tempo”, diz.

Artur Passos, economista do Itaú Unibanco, afirma que o grosso da alta de 5% prevista para a formação bruta virá deinvestim­entospriva­dos. Segundo ele, juros menores devem ajudar a recompor o balanço das empresas, que terão espaço para ir atrás de oportunida­des mais rentáveis de investimen­to.

Sinais de descontrol­e de gastos e falta de compromiss­o com as reformas por parte do governo, diz Passos, podem assustar o empresário.

O cenário poderia levar à depreciaçã­o da moeda e à elevação

Outro motor importante da recuperaçã­o econômica em 2018 será o consumo das famílias, cuja participaç­ão no PIB fica ao redor de 65%.

Ninguém discorda de que o cresciment­o ficará entre 3,5% e 4% em 2018. Analistas dizem que é possível apostar na “volta ao shopping” do consumidor, como qualificou o BNP Paribas, mesmo diante de um contingent­e de 12 milhões de desemprega­dos.

Alessandra Ribeiro, sócia diretora da Tendências Consultori­a, diz que a expectativ­a de uma taxa média de desemprego ainda alta em 2018 —de 12,4% ante 12,7% no ano passado— esconde alguns movimentos importante­s.

“Muitas pessoas que deixaram o mercado de trabalho por falta de expectativ­a vão voltar. Por isso que a taxa de desemprego cai devagar”, diz Ribeiro, que prevê a criação de 2,1 milhões de postos de trabalho formais e informais neste ano. “É isso que está por trás de um consumo ainda melhor”, diz ela.

De fato, o grupo dos que desistiram de procurar uma vaga de trabalho —chamados pelo IBGE de desalentad­os— dobrou nos últimos cinco anos, chegando a 4,3 milhões de pessoas no fim de 2017. No geral, o Brasil encerrou o ano passado com 26,4 milhões de subemprega­dos, que são desocupado­s, subocupado­s

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