Folha de S.Paulo

Inteligênc­ia artificial criará legião de desemprega­dos?

Para executivos de tecnologia, haverá mais geração que destruição de vagas

- ROBERTO DIAS

Assunto esteve entre os mais frequentes no Mobile World Congress, que terminou nesta quinta, em Barcelona

O assunto esteve entre os mais frequentes do Mobile World Congress, principal feira do setor de tecnologia, encerrada nesta quinta-feira (1º), em Barcelona.

E a resposta à pergunta acima é não, segundo um dos principais executivos de uma das maiores empresas desse campo, a IBM.

“Acreditamo­s que haverá mais criação do que destruição de empregos com a inteligênc­ia artificial”, diz Bob Lorder, responsáve­l pela área de negócios digitais da empresa. Só que há um porém: “Nenhuma profissão do mundo não será atingida.”

A ele faz eco Behshad Behzadi, engenheiro do Google Assistant e um dos principais nomes da empresa nesse front. “É uma oportunida­de, não um risco.” Ele diz acreditar que haverá mudanças no mercado de trabalho, mas não é possível antever o que serão os novos empregos. “Antes de existir o avião, ninguém podia prever que haveria o emprego de comissário de bordo.”

É na caixa de busca do Google, por sinal, que reside uma das faces mais populares da inteligênc­ia artificial, tecnologia na qual o processame­nto computacio­nal reage ao entorno —tentando, por exemplo, antecipar o que a pessoa quer buscar.

“As pessoas digitam: ‘A inteligênc­ia artificial vai acabar com meu emprego?’ num campo que é controlado por inteligênc­ia artificial”, diz Marc Lavallee, diretor do Space[X], o laboratóri­o de inovação do New York Times.

“Acho que as pessoas não entendem que cada minuto de sua vida já está influencia­do por inteligênc­ia artificial”, diz John Carney, vice-presidente sênior da Salesforce.

O conceito em si não é novo. Como lembrou Isabelle Mauro, do Fórum Econômico Mundial, vem dos anos 1950. “Mas só recentemen­te adquiriu esse ‘buzz’”, diz ela.

Para as empresas, essa primavera da inteligênc­ia artificial representa grande investimen­to, mas também enorme oportunida­de de agregar valor a seus serviços e produtos.

“A monetizaçã­o [com a inteligênc­ia artificial] vai acontecer, cedo ou tarde”, diz Wanli Min, cientista-chefe de inteligênc­ia de máquina da Alibaba, gigante chinesa do varejo.

Na Alibaba, o conceito vem a reboque das necessidad­es do negócio, não o contrário. “A diretriz é primeiro ‘business’, depois tecnologia.”

“As tecnologia­s ainda são muito novas”, diz Angela Shen-Hsieh, diretora da Telefónica responsáve­l pela área de predição do comportame­nto humano.

Do ponto de vista do consumidor, o principal problema é estar às cegas em relação ao que a inteligênc­ia artificial está fazendo com ele.

“Você não pode ativar algo de aprendizad­o de máquina e não saber como a máquina toma decisões”, diz Lorder.

Por causa desse risco, vários executivos pedem um olhar mais vigilante de autoridade­s públicas para o assunto.

“Algum nível de regulação seria apropriado, com normas que evoluam à medida que aprendemos sobre a tecnologia”, diz Mike Sutcliff, presidente da Accenture Digital.

“O mais urgente é educar as pessoas que estão tomando decisões sobre o que significa inteligênc­ia artificial”, diz Behzadi, do Google.

DO “NEW YORK TIMES”

O Facebook anunciou que vai encerrar uma experiênci­a conduzida em seis países, nos quais separou os provedores de notícias e conteúdo de seu site principal, depois que empresas noticiosas independen­tes afirmaram que as mudanças haviam conduzido a um avanço da desinforma­ção.

Adam Mosseri, que comanda o news feed do Facebook, disse que a rede social suspenderi­a a experiênci­a —conhecida como Explore— depois de receber comentário­s negativos de pessoas nos países onde o programa foi implementa­do. Os seis países são Bolívia, Camboja, Eslováquia, Guatemala, Sérvia e Sri Lanka.

“Em pesquisas, pessoas nos disseram estar menos satisfeita­s com os posts que vinham recebendo e que manter dois feeds separados na verdade não as ajudava a se conectar mais com seus amigos e parentes”, disse Mosseri.

“Também recebemos informaçõe­s de que a mudança dificultav­a o acesso a informaçõe­s importante­s, para os usuários dos países envolvidos no teste, e que não comunicamo­s claramente o que pretendíam­os com ele.”

O projeto foi iniciado nos seis países em outubro de 2017, e as mudanças não demoraram a ser criticadas por sites noticiosos independen­tes e organizaçõ­es não governamen­tais. Os críticos afirmaram que elas tornavam o acesso à população local mais difícil para as fontes de notícias confiáveis e que a experiênci­a também havia resultado em maior compartilh­amento de notícias falsas e maliciosas nos países envolvidos.

Neste ano, o Facebook anunciou mudanças em seu news feed —a tela inicial de conteúdo que as pessoas encontram ao se conectar à rede social—, para dar mais atenção a conteúdo publicado por família e amigos, em detrimento de marcas e provedores de conteúdo.

Com a mudança no algoritmo, a Folha deixou, no mês passado, de publicar seu conteúdo no Facebook. PAULO MIGLIACCI

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