Inteligência artificial criará legião de desempregados?
Para executivos de tecnologia, haverá mais geração que destruição de vagas
Assunto esteve entre os mais frequentes no Mobile World Congress, que terminou nesta quinta, em Barcelona
O assunto esteve entre os mais frequentes do Mobile World Congress, principal feira do setor de tecnologia, encerrada nesta quinta-feira (1º), em Barcelona.
E a resposta à pergunta acima é não, segundo um dos principais executivos de uma das maiores empresas desse campo, a IBM.
“Acreditamos que haverá mais criação do que destruição de empregos com a inteligência artificial”, diz Bob Lorder, responsável pela área de negócios digitais da empresa. Só que há um porém: “Nenhuma profissão do mundo não será atingida.”
A ele faz eco Behshad Behzadi, engenheiro do Google Assistant e um dos principais nomes da empresa nesse front. “É uma oportunidade, não um risco.” Ele diz acreditar que haverá mudanças no mercado de trabalho, mas não é possível antever o que serão os novos empregos. “Antes de existir o avião, ninguém podia prever que haveria o emprego de comissário de bordo.”
É na caixa de busca do Google, por sinal, que reside uma das faces mais populares da inteligência artificial, tecnologia na qual o processamento computacional reage ao entorno —tentando, por exemplo, antecipar o que a pessoa quer buscar.
“As pessoas digitam: ‘A inteligência artificial vai acabar com meu emprego?’ num campo que é controlado por inteligência artificial”, diz Marc Lavallee, diretor do Space[X], o laboratório de inovação do New York Times.
“Acho que as pessoas não entendem que cada minuto de sua vida já está influenciado por inteligência artificial”, diz John Carney, vice-presidente sênior da Salesforce.
O conceito em si não é novo. Como lembrou Isabelle Mauro, do Fórum Econômico Mundial, vem dos anos 1950. “Mas só recentemente adquiriu esse ‘buzz’”, diz ela.
Para as empresas, essa primavera da inteligência artificial representa grande investimento, mas também enorme oportunidade de agregar valor a seus serviços e produtos.
“A monetização [com a inteligência artificial] vai acontecer, cedo ou tarde”, diz Wanli Min, cientista-chefe de inteligência de máquina da Alibaba, gigante chinesa do varejo.
Na Alibaba, o conceito vem a reboque das necessidades do negócio, não o contrário. “A diretriz é primeiro ‘business’, depois tecnologia.”
“As tecnologias ainda são muito novas”, diz Angela Shen-Hsieh, diretora da Telefónica responsável pela área de predição do comportamento humano.
Do ponto de vista do consumidor, o principal problema é estar às cegas em relação ao que a inteligência artificial está fazendo com ele.
“Você não pode ativar algo de aprendizado de máquina e não saber como a máquina toma decisões”, diz Lorder.
Por causa desse risco, vários executivos pedem um olhar mais vigilante de autoridades públicas para o assunto.
“Algum nível de regulação seria apropriado, com normas que evoluam à medida que aprendemos sobre a tecnologia”, diz Mike Sutcliff, presidente da Accenture Digital.
“O mais urgente é educar as pessoas que estão tomando decisões sobre o que significa inteligência artificial”, diz Behzadi, do Google.
DO “NEW YORK TIMES”
O Facebook anunciou que vai encerrar uma experiência conduzida em seis países, nos quais separou os provedores de notícias e conteúdo de seu site principal, depois que empresas noticiosas independentes afirmaram que as mudanças haviam conduzido a um avanço da desinformação.
Adam Mosseri, que comanda o news feed do Facebook, disse que a rede social suspenderia a experiência —conhecida como Explore— depois de receber comentários negativos de pessoas nos países onde o programa foi implementado. Os seis países são Bolívia, Camboja, Eslováquia, Guatemala, Sérvia e Sri Lanka.
“Em pesquisas, pessoas nos disseram estar menos satisfeitas com os posts que vinham recebendo e que manter dois feeds separados na verdade não as ajudava a se conectar mais com seus amigos e parentes”, disse Mosseri.
“Também recebemos informações de que a mudança dificultava o acesso a informações importantes, para os usuários dos países envolvidos no teste, e que não comunicamos claramente o que pretendíamos com ele.”
O projeto foi iniciado nos seis países em outubro de 2017, e as mudanças não demoraram a ser criticadas por sites noticiosos independentes e organizações não governamentais. Os críticos afirmaram que elas tornavam o acesso à população local mais difícil para as fontes de notícias confiáveis e que a experiência também havia resultado em maior compartilhamento de notícias falsas e maliciosas nos países envolvidos.
Neste ano, o Facebook anunciou mudanças em seu news feed —a tela inicial de conteúdo que as pessoas encontram ao se conectar à rede social—, para dar mais atenção a conteúdo publicado por família e amigos, em detrimento de marcas e provedores de conteúdo.
Com a mudança no algoritmo, a Folha deixou, no mês passado, de publicar seu conteúdo no Facebook. PAULO MIGLIACCI