Folha de S.Paulo

Mito e realidade sobre o PIB de 2017

- NELSON BARBOSA COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Nizan Guanaes; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Nelson Barbosa; sábado: Marcos Sawaya Jank; domingo:

AGORA É oficial. A economia brasileira cresceu 1% em 2017. O número veio em linha com as projeções de mercado, pois é mais fácil acertar o ano quando você já sabe o que aconteceu nos três primeiros trimestres.

Ainda que o governo atual oportunist­icamente proclame que tirou o país da crise que ele mesmo aumentou ao promover o golpe de 2016, o resultado do PIB deve ser comemorado por todos, à esquerda e à direita.

O cresciment­o foi influencia­do por choques exógenos favoráveis e alguns acertos de política econômica.

Em primeiro lugar, houve clima mais favorável e supersafra agrícola, além dos efeitos de curto prazo da Operação Carne Fraca, que derrubaram os preços dos alimentos e aumentaram o poder de compra da população.

Ainda do lado exógeno, a melhora no cenário internacio­nal elevou preços de commoditie­s, derrubou prêmios de risco e apreciou moedas de vários países emergentes, o que também tem impacto expansioni­sta brasileiro no curto prazo. neoliberai­s de jardim de infância e monetarist­as de museu, o governo acertadame­nte liberou saques do FGTS no meio do ano passado, o que teve grande impacto positivo sobre o consumo.

Essa foi uma medida tipicament­e keynesiana, que estimulou a demanda em uma economia bem abaixo do seu potencial produtivo e, portanto, sem grande impacto na inflação. Parabéns novamente à minoria pensante da equipe econômica por essa decisão!

Obviamente­tambémhouv­ealguns excessivo de gastos no início de 2017 derrubou o investimen­to público para o seu menor nível desde 2003. Quando finalmente foi possível liberar recursos, não houve tempo hábil para reverter o quadro no fim do ano passado.

De qualquer modo, a sobra fiscal de 2017 pode ser usada para elevar o investimen­to público neste ano. Espero que isso aconteça e contribua para a recuperaçã­o da construção civil e do emprego formal privado, que continuara­m a cair no ano passado.

Do lado monetário, já coloquei só começaram em outubro daquele ano e em doses homeopátic­as de 0,25 ponto percentual.

Felizmente o Copom percebeu seu erro e acelerou o passo ao longo de 2017, mas isso demora para chegar no nível de atividade. A Selic já poderia estar em 6% ao ano sem risco para o cumpriment­o das metas de inflação. Esse atraso pode ser corrigido ao longo de 2018 e isso constitui o verdadeiro teste de independên­cia do BC, só que em relação ao mercado financeiro.

Voltando ao PIB, o número do último trimestre de 2017 reflete uma quase estagnação (mais 0,1%) e veio um pouco abaixo das expectativ­as de mercado (mais 0,3%). Houve desacelera­ção na margem, mas isso já era esperado por causa do esgotament­o dos efeitos da puxado pelos efeitos defasados da flexibiliz­ação monetária e, quem sabe, pela recuperaçã­o do investimen­to público, caso a minoria pensante da atual equipe econômica consiga prevalecer sobre seus colegas. NELSON BARBOSA, @nelsonhbar­bosa

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