Mito e realidade sobre o PIB de 2017
AGORA É oficial. A economia brasileira cresceu 1% em 2017. O número veio em linha com as projeções de mercado, pois é mais fácil acertar o ano quando você já sabe o que aconteceu nos três primeiros trimestres.
Ainda que o governo atual oportunisticamente proclame que tirou o país da crise que ele mesmo aumentou ao promover o golpe de 2016, o resultado do PIB deve ser comemorado por todos, à esquerda e à direita.
O crescimento foi influenciado por choques exógenos favoráveis e alguns acertos de política econômica.
Em primeiro lugar, houve clima mais favorável e supersafra agrícola, além dos efeitos de curto prazo da Operação Carne Fraca, que derrubaram os preços dos alimentos e aumentaram o poder de compra da população.
Ainda do lado exógeno, a melhora no cenário internacional elevou preços de commodities, derrubou prêmios de risco e apreciou moedas de vários países emergentes, o que também tem impacto expansionista brasileiro no curto prazo. neoliberais de jardim de infância e monetaristas de museu, o governo acertadamente liberou saques do FGTS no meio do ano passado, o que teve grande impacto positivo sobre o consumo.
Essa foi uma medida tipicamente keynesiana, que estimulou a demanda em uma economia bem abaixo do seu potencial produtivo e, portanto, sem grande impacto na inflação. Parabéns novamente à minoria pensante da equipe econômica por essa decisão!
Obviamentetambémhouvealguns excessivo de gastos no início de 2017 derrubou o investimento público para o seu menor nível desde 2003. Quando finalmente foi possível liberar recursos, não houve tempo hábil para reverter o quadro no fim do ano passado.
De qualquer modo, a sobra fiscal de 2017 pode ser usada para elevar o investimento público neste ano. Espero que isso aconteça e contribua para a recuperação da construção civil e do emprego formal privado, que continuaram a cair no ano passado.
Do lado monetário, já coloquei só começaram em outubro daquele ano e em doses homeopáticas de 0,25 ponto percentual.
Felizmente o Copom percebeu seu erro e acelerou o passo ao longo de 2017, mas isso demora para chegar no nível de atividade. A Selic já poderia estar em 6% ao ano sem risco para o cumprimento das metas de inflação. Esse atraso pode ser corrigido ao longo de 2018 e isso constitui o verdadeiro teste de independência do BC, só que em relação ao mercado financeiro.
Voltando ao PIB, o número do último trimestre de 2017 reflete uma quase estagnação (mais 0,1%) e veio um pouco abaixo das expectativas de mercado (mais 0,3%). Houve desaceleração na margem, mas isso já era esperado por causa do esgotamento dos efeitos da puxado pelos efeitos defasados da flexibilização monetária e, quem sabe, pela recuperação do investimento público, caso a minoria pensante da atual equipe econômica consiga prevalecer sobre seus colegas. NELSON BARBOSA, @nelsonhbarbosa