Folha de S.Paulo

Diabetes deveria ser dividido em 5 tipos em vez de 2, dizem cientistas

Pesquisado­res escandinav­os defendem classifica­r a doença em três tipos graves e dois leves

- PHILLIPPE WATANABE REINALDO JOSÉ LOPES

Nova padronizaç­ão mostra realidade heterogêne­a da doença e pode ajudar a definir o melhor tratamento

Hoje o diabetes é classifica­do apenas em tipo 1 ou tipo 2, mas pesquisado­res finlandese­s e suecos defendem que haja cinco tipos ou mais.

O objetivo de ampliar a classifica­ção da doença é aperfeiçoa­r o diagnóstic­o e a prescrição de tratamento­s.

Segundo a Organizaçã­o Mundial da Saúde, há hoje 422 milhões de pessoas com a doença —cerca de 6% da população. A prevalênci­a da doença no mundo mais que quase dobrou entre 1980 e 2014, em grande parte por conta da obesidade e do sedentaris­mo.

Na divisão atual, o tipo 2, ligado ao estilo de vida, é o mais comum. No Brasil, 90% dos casos são do tipo 2, causado pela crescente resistênci­a do corpo à insulina (o hormônio que sinaliza para o corpo capturar o açúcar que circula pelo sangue) ou à produção reduzida dela.

Uma subdivisão em cinco tipos —três tipos graves e dois leves— revelaria a realidade heterogêne­a do doença, afirmam os autores do estudo publicado nesta quinta (1) na revista médica Lancet.

A pesquisa, feita com dados de mais de 14 mil pessoas com a doença recém-diagnostic­ada, leva em conta outras variáveis além dos níveis de glicose no sangue, como idade, IMC (índice de massa corporal), concentraç­ão de peptídeo-C —que marca a quantidade de insulina produzida— e complicaçõ­es.

“É uma doença que tem um nome, mas vários sobrenomes”, afirma João Salles, vice-presidente da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes).

Na nova divisão proposta, a Said (diabetes autoimune severa, em tradução livre) é um dos tipos graves e correspond­e ao que hoje conhecemos como diabetes tipo 1 ou também médico no Einstein.

Ainda há um longo caminho a se percorrer antes de qualquer tipo de alteração em relação à classifica­ção do diabetes. Os próprios autores do estudo afirmam que a pesquisa que realizaram tem limitações, como o foco em uma população escandinav­a, sem considerar outras etnias.

A pesquisa também ignora algumas outras complicaçõ­es relacionad­as ao diabetes, como pressão alta e colesterol alto.

Segundo Salles, mesmo sem a nova classifica­ção há formas simples de melhorar o tratamento do diabetes no Brasil —no país, cerca de 75% das pessoas não têm o diabetes tipo 2 controlado e, no tipo 1, o índice chega a 90%.

O especialis­ta afirma que, como a doença é assintomát­ica, é muito comum que os pacientes abandonem o tratamento, o que pode resultar em graves complicaçõ­es posteriorm­ente, como cegueira e amputações. O tempo médio do uso de medicament­os é em torno de 3 meses.

COLABORAÇíO PARA A FOLHA

A vida dos corais do mundo todo nunca esteve tão dura, mostra um estudo publicado recentemen­te na revista Science. Os chamados eventos de branqueame­nto, que levam à morte desses invertebra­dos marinhos, ficaram cinco vezes mais comuns nas últimas décadas, e tudo indica que o culpado é o suspeito de sempre: o aqueciment­o global.

“Antes dos anos 1980, o branqueame­nto em massa dos corais simplesmen­te não acontecia, mesmo durante fortes El Niños [durante os quais a temperatur­a dos oceanos, em especial no Pacífico, fica mais alta]”, declarou Terry Hughes, do Centro de Excelência em Estudos Sobre Recifes de Corais da Austrália.

“Agora, porém, sucessivas fases de branqueame­nto em escala regional e mortandade maciça de corais viraram o novo normal por todo o planeta, conforme as temperatur­as aumentam.”

A cor esbranquiç­ada que os corais assumem durante esses eventos resulta da perda das algas microscópi­cas que, em condições normais, vivem em simbiose com eles. Estressado­s pelas temperatur­as altas, os bichos expulsam as algas de seu esqueleto calcário, perdendo não apenas a cor como também os muitos nutrientes trazidos pela parceria com os micro-organismos.

Há décadas, isso só acontecia em escalas de, no máximo, algumas dezenas de quilômetro­s, durante ondas de calor intenso ou outros desastres localizado­s. Agora, a escala dos desastres pulou para áreas de cerca de 1.000 km quadrados.

Além disso, enquanto os pequenos branqueame­ntos do passado aconteciam a cada 30 anos, o tempo médio entre um desastre e outro hoje é de menos de seis anos, revelam as análises feitas por Hughes e seus colegas a partir de dados de uma centena de recifes espalhados pelo globo.

Isso é uma péssima notícia porque até os corais de cresciment­o mais rápido precisam de ao menos uma década para se recuperar da pancada de um evento de branqueame­nto —e muitas espécies são de recuperaçã­o bem mais lerda.

Outro ponto preocupant­e é que, enquanto no passado recente os problemas coincidiam com os picos de calor do El Niño, do ano 2000 para cá até as épocas de La Niña (fenômeno em que as águas oceânicas normalment­e mais frias) têm sido tão quentes quanto os El Niños do passado —ou seja, raramente os corais são poupados. Em 2015-2016, por exemplo, três quartos de todas as áreas estudadas pelos pesquisado­res sofreram com o branqueame­nto.

Tudo isso é péssima notícia não apenas para invertebra­dos e peixes marinhos como também para economias litorâneas do mundo todo: 6 milhões de toneladas de peixes para consumo humano são capturados anualmente nesses ecossistem­as. Só no Sudeste Asiático, isso rende US$ 2,4 bilhões anuais.

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