Folha de S.Paulo

Falei: ‘Mãe, eu quero fazer um livro, que vai possibilit­ar viver de livro —é o que eu sei e posso fazer. Não posso trabalhar fora para fazer isso, porque esse livro precisa ser muito melhor do que muita coisa. E para isso preciso trabalhar muito

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quanto tempo ia levar, mas sabia que uma hora ia acontecer [de ele ser descoberto].”

Dali, Martins ainda faria oficinas da Flupp (Festa Literária das Periferias), onde conheceu alguns escritores. Chegou a ir à Flip, em 2015, apresentar a “Setor X”. Foi quando pediu à mãe para voltar a morar com ela.

“Falei: ‘Mãe, eu quero fazer um livro, que vai possibilit­ar viver de livro —é o que eu sei e posso fazer. Não posso trabalhar fora para fazer isso, porque esse livro precisa ser muito melhor do que muita coisa. E para isso preciso trabalhar muito’”, diz o escritor.

“Não tenho profissão, não tenho estudo, a falta de perspectiv­a me agoniava. Por isso resolvi apostar”, completa.

Neide, mãe do escritor, afirma: “Sempre gostei dessas coisas [arte]. Mas, com uma vida muito sacrificad­a, não podia fazer nada. Gostava de música, dança. Consigo ver no Geovani o que eu não fui”.

Além da confiança de Carlito Azevedo e outros, havia uma previsão. Em consultas com Zé das Moças e o povo da rua (exus, pombagiras etc.), entidades de umbanda, o jovem escritor ouviu: sim, os caminhos estavam abertos, mas isso de nada adiantaria se ele não estivesse preparado.

Martins então dedicou-se a uma disciplina monástica. Escrevia muitas horas por dia, mas, dono de estilo econômico, pouco. Primeiro à máquina de escrever, por falta de computador. Hoje, depois da

FRANK WEGNER

editor alemão

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