Johnny Massaro brilha em bom e melancólico polaroide urbano
“Todas as Razões para Esquecer” é um desafio que Johnny Massaro vence bem. O primeiro longa do diretor Pedro Coutinho joga todas as fichas na interpretação do jovem ator, que conduz a narrativa de ponta a ponta.
Relato do período de depressão do designer Antonio após ser abandonado por Sofia, o roteiro depende muito das oscilações do personagem. Os caminhos do enredo nascem das transições nem sempre lineares do humor de Antonio, indo e voltando entre tristeza, desânimo, euforia e tentativas de racionalizar o processo.
Talvez o único defeito do filme seja certa falta de ritmo, mais na primeira metade, que é o período mais borocoxô de Antonio. Parece que o tédio dele contamina a edição. Mas pode funcionar para levar o espectador ao fundo do poço do rapaz.
Na segunda metade, fica vigoroso quando Antonio se torna amigo de um vizinho gay e sua relação com a psicóloga dá uma guinada. Poucos se importarão muito com o desfecho do casal. Ficar junto ou não é claramente coisa da vida, o roteiro acerta ao não tomar partido.
Massaro consegue a proeza de tornar extremamente simpático um tipo que poderia não engrenar com o público, tamanha sua melancolia. É o segredo do sucesso no cinema de outros personagens em depressão existencial. Woody Allen fez escola.
Já a ótima Bianca Comparato tem tarefa mais espinhosa como Sofia. A ex-namorada aparece na maior parte do tempo em lembranças de Antonio, e o próprio personagem diz que só consegue se recordar de coisas boas.
Daí a atriz surgir calada, sorridente e sedutora. Ela só se apresenta na tela totalmente em poucas e curtas cenas de briga pós-rompimento.
A condução dos atores dá ânimo para esperar projetos mais ambiciosos do diretor. Por enquanto, a estreia é um polaroide urbano muito bom. DIREÇÃO Pedro Coutinho ELENCO Johnny Massaro, Bianca Comparato, Regina Braga PRODUÇÃO Brasil, 2018; 16 anos QUANDO em cartaz AVALIAÇÃO muito bom