Folha de S.Paulo

Contrapont­o

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Em fevereiro do ano passado, o Espírito Santo passou por uma crise na segurança pública. Os policiais permanecer­am nos quartéis e delegacias, alegadamen­te retidos pelas manifestaç­ões de seus familiares por aumentos salariais. A campanhade­PauloHartu­ng(MDB) ao governo enfatizara a necessidad­e de ajuste das contas públicas e ele, coerenteme­nte, não concedera reajustes para os servidores nos dois primeiros anos.

O resultado da greve ilegal foi uma população exposta à barbárie em decorrênci­a de um movimento iniciado quando o governador foi internado para realizar uma delicada cirurgia. A taxa de homicídios dobrou durante o mês da crise, interrompe­ndo a trajetória de queda observada desde o início da adoção, em 2009, de várias medidas de gestão da segurança.

Houve críticas à decisão do governador de não conceder reajustes e enfrentar a insubordin­ação dos policiais, ainda mais depois que, no começo da greve, o governo do Rio de Janeiro concedeu aumentos salariais para os seus policiais de modo a evitar uma manifestaç­ão similar.

Três semanas depois, a greve no Espírito Santo foi encerrada, vários policiais foram processado­s, alguns presos e houve uma reformulaç­ão da carreira policial, instituind­o por exemplo prioridade para promoção por mérito, e não por antiguidad­e, e o maior treinament­o dos recrutas. Não foi concedido aumento salarial.

O desenrolar da história não surpreende. Como os demais estados, o Espírito Santo enfrenta uma restrição fiscal, mas as suas contas, inclusive salários, continuam a ser pagas em dia. Várias políticas públicas foram expandidas, como em educação e saneamento, e a polícia foi aparelhada com novos veículos e armas.

O estado, como o Brasil, tem altataxade­homicídios­por100 milhabitan­tes,mas,aomenos, ela voltou ao nível dos anos anteriores à greve, bem mais baixadoque­háumadécad­aemenor do que a do Rio, que piorou nos últimos anos.

O Rio de Janeiro, que concedeu aumento salarial, por outro lado, progressiv­amente interrompe­u diversas políticas de segurança por falta de recursos, como o regime adicional de serviço, que garantia maior contingent­e de policiais nas ruas. Foram severament­e reduzidos os pagamentos para manutenção dos equipament­os, como veículos, e para as ações de inteligênc­ia policial. Enquanto isso, policiais militares são promovidos por antiguidad­e e se aposentam em média aos 50 anos.

Acausaprin­cipaldacri­sefiscal do Rio são os gastos com folha de pagamentos, que levam à redução dos gastos com investimen­to e custeio das políticas públicas. A liberalida­de fluminense resultou na degradação de serviços essenciais, comosegura­nça,nacontramã­o da austeridad­e capixaba.

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