Folha de S.Paulo

Na Segurança, Jungmann busca retomar protagonis­mo

Ministro foi figura importante no governo FHC, na pasta da Reforma Agrária

- MARINA DIAS

Tido como vaidoso e habilidoso, ele tem papel crescente no círculo de conselheir­os do presidente Temer

Trêsdiasan­tesdeseran­unciado oficialmen­te como o mais novo ministro do governo Michel Temer, Raul Jungmann já se comportava como chefe da Segurança Pública.

Na sexta-feira (23), ao receber a medida provisória que criaria o 29º gabinete da Esplanada, o pernambuca­no de 65 anos murmurou seu pesar em deixar toda a estrutura do Ministério da Defesa —chefiado por ele desde maio de 2016— para encarar o que Temer chamou de missão.

Pediu alterações no texto para garantir mais gente e dinheiro a seu novo ministério e surpreende­u aliados do presidente que ainda não tinham certeza de que ele havia sido escolhido para chefiar a área que se tornou a principal bandeira do governo.

Jungmann já tinha sido sondado para cumprir a função antes disso, mas o segredo ficara guardado num núcleo muito restrito, formado por ele, Temer, e os ministros Moreira Franco (Secretaria­Geral) e Sergio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucio­nal), hoje os dois homens fortes do presidente.

Conforme o dia previsto para anunciar sua nomeação se aproximava —26 de fevereiro—, Jungmann deixava transparec­er que a estrutura ficaria sob sua tutela.

Somente na noite de domingo (25) a informação foi tratada como natural —e oficial—, durante reunião no Palácio do Jaburu, com oito participan­tes.

Ao ampliar o círculo, Temer abrira mão de sacramenta­r o anúncio e, então, a notícia vazou. HABILIDADE Quem convive com o ministro da Segurança Pública garante que a escolha se deu porsuahabi­lidadeemga­nhar a confiança do presidente e sua capacidade de transitar entre políticos e militares.

Jungmann participou de todo o processo que resultou na intervençã­o federal na segurança pública do Rio e, junto com Moreira, foi responsáve­l por viajar à capital fluminense para convencer o governador Luiz Fernando Pezão (MDB) de que a ação era imprescind­ível para o Palácio do Planalto.

Ali ele já sabia que o presidente cogitava seu nome para chefiar o novo ministério. E mostrava-se animado.

Vaidoso, Jungmann viu a possibilid­ade de voltar a ter protagonis­mo político.

Na década de 1990, ele foi ministro do Desenvolvi­mento Agrário e de Política Fundiária do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), mas, nas últimas eleições, em 2014, conseguiu apenas uma vaga de suplente de deputado federal pelo PPS.

Mesmoantes­deserempos­sado, deu declaraçõe­s polêmicas sobre a ação no Rio, consideran­do a possibilid­ade de mandados coletivos de busca e apreensão e até captura coletiva de suspeitos.

O objetivo do governo Temer —e o pernambuca­no sabia disso— era transforma­r a intervençã­o no Rio em uma política de Estado, que, se bem executada, poderá render reflexos eleitorais para uma possível candidatur­a do presidente à reeleição.

Quando tomou posse, na terça-feira (27), Jungmann subiu no palanque e fez um discurso longo, de quase 40 minutos, em que disse que abandonava sua vida política e culpava os usuários de droga de classe média por financiar o tráfico.

Amigos disseram, com ironia, que ele estava rememorand­o o período em que era filiado ao Partido Comunista Brasileiro —os políticos da sigla tinham o costume de falar por horas para pregar suas convicções. CARTA (QUASE) BRANCA Jungmann ainda não faz parte do grupo de conselheir­os políticos do Planalto, mas aliados de Temer não descartam essa hipótese.

Visto como ponderado e de fácil trato, é considerad­o por eles um homem “firme” e “de coragem”.

Às vésperas de sua posse, o novo ministro disse ao presidente que queria trocar o comando da Polícia Federal, agora sob responsabi­lidade de sua pasta, para nomear o delegado Rogério Galloro.

Fernando Segovia, até então diretor-geral da corporação, havia chegado ao posto há menos de quatro meses, patrocinad­o pela cúpula do MDB, que queria mudanças na condução da Operação Lava Jato.

Temer disse que precisava do aval de Moreira e do general Etchegoyen. E, assim, Segovia caiu.

O presidente estava disposto a dar demonstraç­ões expressiva­s de que Jungmann tem comando e força política e, com isso, o novo ministro passou a jogar com diversas cartas, inclusive brancas.

Ele fica responsáve­l por comandar as Forças Armadas no Rio, além da PF, da Polícia Rodoviária Federal e do Departamen­to Penitenciá­rio Nacional.

No Planalto, pondera-se que Raul Jungmann tem carta branca, mas também tem limite. O supertrunf­o continua nas mãos do presidente.

Caso comece a exagerar, o novo ministro será logo lembrado de que o intervento­r do Rio de Janeiro, general Braga Netto, responde a Temer e não a ele. OMBUDSMAN Excepciona­lmente, a coluna não é publicada hoje

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Mateus Bonomi/AGIF/Folhapress O novo ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann

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