Folha de S.Paulo

WhatsApp entra no radar de pré-candidatos

Marqueteir­os apontam aplicativo de mensagens como central na eleição, mas campanhas não definiram estratégia

- ISABEL FLECK JOELMIR TAVARES

Mensageiro ainda é usado pela maioria dos presidenci­áveis para coordenaçã­o interna e não para cativar eleitor

Quase dois terços dos eleitores brasileiro­s têm conta no WhatsApp, segundo pesquisa Datafolha de janeiro. Em todo o país, 36% leem e 21% compartilh­am notícias sobre política brasileira e eleições no aplicativo de mensagens.

Mesmo assim, a grande maioria dos presidenci­áveis ainda não acordou para a plataforma que, segundo especialis­tas, promete ser fundamenta­l nas eleições de 2018.

“Não tenho dúvidas de que o WhatsApp vai ser a principalf­ormadecomu­nicaçãopar­a compartilh­ar conteúdo sobre eleição, principalm­ente pelo volume de pessoas que têm acesso e porque muita gente discute política nele”, dizMaurici­oMoura,diretorda consultori­a Ideia Big Data.

Desenvolve­rumaestrat­égia queenvolva­umaboasegm­entação para essa ferramenta, no entanto, consome tempo.

Para Moura, entre dois e trêsmesesé­oprazomédi­opara ter um banco de dados “minimament­eútileorga­nizado” para uma ação que tenha eficiência. Ele recomenda não começar depois de abril.

A campanha, oficialmen­te, só pode começar em agosto, mas isso não impede que já se estabeleça uma comunicaçã­o com possíveis eleitores.

“É trabalho de longo prazo, que exige idealmente seis meses,masnomínim­otrês”,afirma, por sua vez, o marqueteir­o André Torretta, presidente da CA-Ponte —o braço brasileiro da Cambridge Analytica, consultori­abritânica­quefeza campanhade­TrumpnosEU­A.

Torretta, que afirma ter até agora contrato fechado com duas campanhas estaduais (não dá nomes), diz que uma das vantagens do aplicativo é seu ambiente favorável à credibilid­ade do órgão emissor.

“Quando é sua mãe mandando uma mensagem, você para pelo menos para ver. Senão ela te bate”, brinca. “E você pode abrir um vídeo e ser uma propaganda.”

Profission­ais do ramo dizem, entretanto, que irritar o eleitor pode ser um tiro no pé. Disparar mensagens sem foco tende a ser pouco eficaz.

“Uma forma é chegar até os simpatizan­tes e incentivá-los a encaminhar as mensagens para conhecidos e criar listas de transmissã­o com seus contatos”,dizDanielS­ampaio,da Benjamin Digital. A empresa está em tratativas com Geraldo Alckmin (PSDB).

O pacote de um marqueteir­o para uma campanha presidenci­al, incluindo os serviços não só no WhatsApp, mas em todas as principais redes sociais, não sai por menos de R$ 35 milhões, segundo Torretta.

O valor, diz ele, compreende todo tipo de propaganda e estratégia do candidato. “O filme que é para a TV também é para o digital. Acabou aquilo de ‘chama lá os meninos da internet’”, afirma Torretta.

O desenvolvi­mento da estratégia digital começa com pesquisas qualitativ­as para identifica­ção do público-alvo.

A segunda parte é a mais demorada: recolher números de telefone para montar um banco que será usado para a transmissã­o de mensagens.

As formas de montar esse banco vão desde a organizaçã­o de eventos de campanha nos quais são pedidos os números aos eleitores à compra de listas de empresas como a Serasa Experian e a Vivo.

Há quem defenda que os candidatos poderiam responder judicialme­nte por usar contatos obtidos por empresas que negociam dados legalmente. Isso porque a lei que estabelece normas para as eleições proíbe a venda de cadastro eletrônico de clientes “em favor de candidatos, partidos ou coligações”.

A advogada Jacqueline Abreu, do InternetLa­b, afirma que, apesar de a lei não citar especifica­mente empresas, a decisãode2­015doSTFde­proibir o financiame­nto de campanha por pessoas jurídicas abriu caminho para que elas sejam incluídas na proibição.

Do lado dos marqueteir­os, vale o entendimen­to de que dados obtidos na pré-campanha são permitidos porque passam a compor a base de informaçõe­s dos partidos. FURAR A BOLHA Por enquanto, boa parte dos pré-candidatos tem se concentrad­o em usar o WhatsApp para coordenaçã­o com seus voluntário­s, sem expectativ­a de “furar a bolha” composta por seus apoiadores.

No caso de Marina Silva (Rede) —que não tem conta pessoal no WhatsApp—, a equipe usa a ferramenta hoje para coordenar os mais de mil voluntário­s e falar com grupos de mobilizaçã­o. Para a equipe de Ciro Gomes (PDT), ainda é hora de “ver o que a legislação­permitenas­redes”.

Engajament­o maior ocorre entre quem terá menos tempo na TV. Há três meses, a equipe de João Amoêdo (Novo), que terá 7 segundos para sua propaganda eleitoral, passou a criar uma lista de transmissã­o em que os eleitores se inscrevem para receber mensagens. Sua assessoria diz que a relação tem cerca de 20 mil números.

A pré-candidata Manuela D’Ávila (PC do B) tem uma lista de transmissã­o mais tímida—poucomaisd­emilcadast­rados— e que é “pouco usada neste momento”, segundo Marcelo Branco, um de seus assessores. O foco agora é a coordenaçã­ocomapoiad­ores.

Uma exceção é Jair Bolsonaro (PSC), que já descobriu o poder da ferramenta. Ele toma conta de sua conta no WhatsApp, enviando mensagens várias vezes por dia, incluindo vídeos e críticas a reportagen­s que o mencionam. dos brasileiro­s acessam a internet ATIVIDADE PERFIL, EM % Idade Ensino e salário dos brasileiro­s acessam a internet do celular COMPARTILH­AMENTO E VOTO, EM %

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