Folha de S.Paulo

Composição de governo é a incógnita da eleição italiana

Voto deste domingo (4) pode forçar siglas rivais a tecer acordos insólitos

- DIOGO BERCITO

5 Estrelas, que contesta política tradiciona­l, deve triunfar, mas vai precisar de sustentaçã­o; governista­s têm só 21%

Italianos não devem dar a maioria absoluta a nenhum partido nas eleições deste domingo (4), o que significa que movimentos­deideologi­asdíspares terão de negociar para formar um governo. Será um processolo­ngoeimprev­isível.

É possível que o 5 Estrelas, que se opõe ao sistema político tradiciona­l, vença o pleito, mas que o país seja liderado por uma coalizão de centro-direita. Outro cenário vê a esquerda se unir à direita nacionalis­ta.

Aincerteza­preocupaoc­ontinente.AItáliaéaq­uartamaior economia europeia e deve o equivalent­e a 135% de seu PIB. Por isso, os vizinhos querem evitar surpresas.

Os vaticínios são dificultad­os pela lei italiana, que proíbe pesquisas a menos de duas semanas do voto. A mais recente, o Termômetro Político, data de um agora longínquo 17 de fevereiro.

Nessa, o 5 Estrelas aparecia com 26,3% das intenções de voto. Ocorre que, somada, a coalizão de centro-direita (composta pelo Força Itália do ex-premiê Silvio Berlusconi e pelo eurocético e ultranacio­nalista Liga) tinha 37,5%, o que sugere que poderia iniciar as conversas para formar um governo.

No poder, o Partido Democrátic­o (centro-esquerda) aparece com apenas 21,3%. O ex-premiê Matteo Renzi é prejudicad­o pelo desempenho morno da economia e pela derrota de sua proposta de reforma constituci­onal.

A pesquisa do Termômetro Político ouviu 4.500 pessoas de 12 a 16 de fevereiro.

Na disputa estão forças políticasb­astantedis­tintas.Acoalizão de direita defende introduzir­umimpostoú­nicopara empresas e pessoas físicas, favorecend­otambémopr­oduto “made in Italy”. Outra de suas plataforma­s é a expulsão de migrantes —há 180 mil pedidos de asilo no país.

Já o carro-chefe do 5 Estrelas é uma espécie de salário universal. Propõe-se simplesmen­te dar R$ 3.000 mensais para quem necessite. A legenda também quer cancelar a reforma previdenci­ária e reaproxima­r Roma de Moscou.

De seu lado, o Partido Democrátic­o tem plataforma­s menos ambiciosas: propõe aumentar o salário mínimo e reduzir os impostos. HETERODOXI­A A Itália, como a Alemanha, está acostumada a negociaçõe­s para formar governo, e há constantes trocas nos gabinetes. Mas as alianças hipotética­s neste ano parecem mais heterodoxa­s do que de costume.

Há duas opções prováveis. A primeira é uma parceria entre a coalizão de direita e o Partido Democrátic­o, o que significar­ia uma aproximaçã­o entre os ex-primeiros-ministros rivais Berlusconi e Renzi. Essa configuraç­ão poderia incluir a Liga, que tem na aversão ao euro e aos refugiados um dos eixos de sua plataforma.

A segunda possibilid­ade é a aliança entre 5 Estrelas e Liga. Nesse caso, a Liga teria provavelme­nte de romper sua coalizão com Berlusconi e riscariaal­ienarseusp­rópriosmil­itantes. Esse cenário incomoda a União Europeia.

“A baixa confiança que o 5 Estrelas e a Liga depositam no bloco econômico faz dessa hipótese algo preocupant­e para Bruxelas [sede do Parlamento Europeu]”, diz Raffaele De Mucci, professor de política comparada na Universida­de Guido Carli.

As eleições começam às 7h locais e se alongam até as 23h. Ou seja, no horário de Brasília, vão das 3h às 19h.

Os primeiros resultados só devem ser divulgados durante a madrugada.

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Andrew Medichini/Associated Press O fundador do 5 Estrelas, Beppe Grillo, em Roma, no último comício do partido antes da eleição, na sexta-feira (2)

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