Folha de S.Paulo

Economia morna e desgaste com UE pautam escolha partidária

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DO ENVIADO A ROMA

Camilla e Edoardo enxergam um mesmo problema na Itália.

Ela, 23, diz que “não existe perspectiv­a para os jovens italianos” e que “é difícil lidar com esse desconfort­o”.

Já ele, 26, afirma que “não temos nada, não temos empregoenã­oconseguim­osnem sustentar nossas famílias”.

A despeito das semelhança­s, esses dois eleitores — que não dizem o sobrenome— chegaram a duas conclusões distintas para as eleições deste domingo (4) no que diz respeito ao voto. Camilla boicotará o pleito, enquanto Edoardo vai escolher a extrema-direita.

Apesar de a migração ter dominado o debate político nos últimos meses, é o tema clássico —a economia— que deve determinar o resultado dessa corrida, afirma à reportagem o cientista social Leonardo Morlino, da Universida­de Guido Carli.

Em especial, importa a má forma daquela: o desempenho insatisfat­ório do país castiga o governista Partido Democrátic­o, de centro-esquerda, representa­do pelo ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, que aparece em terceiro lugar nas pesquisas.

A economia da Itália deve crescer 1,5% neste ano, e o país segue acumulando dívidas, já devendo 135% de seu PIB. O desemprego é estimado em 11%, mas chega a 33% no segmento dos cidadãos com menos de 25 anos.

Essa situação contribui para o cresciment­o de partidos de protesto, como o 5 Estrelas, criado quase que como piada por um comediante, e líder nas sondagens —ao menos individual­mente.

Também se beneficiam as forças nacionalis­tas, como a Liga, um dos polos de uma coalizão de centro-direita que os levantamen­tos dizem ser o bloco mais forte.

A Liga elegeu a integração da Itália na União Europeia como a responsáve­l pela morosidade econômica do país e propôs no passado abandonar o euro. O neófito 5 Estrelas já discutiu exatamente a mesma solução, assustando a vizinhança.

A ideia seduz os eleitores prejudicad­os, nas últimas décadas, pela competitiv­idade minguante da indústria italiana, ameaçada por produtos mais baratos vindos de outros mercados.

Em fevereiro, a empresa brasileira Embraco decidiu transferir sua fábrica da Itália para a Eslováquia, eliminando quase 500 empregos.

“Os governos anteriores defendiam apenas o interesse europeu”, afirma Edoardo. “Agora, queremos o ‘Italy first’.” (DB) Área: 301 mil km2 (pouco maior que o RS) População: 62 milhões (equivale à população de SP e RJ somadas) PIB: US$ 2,3 trilhões (Brasil é US$ 3,2 tri) PIB per capita*: US$ 38 mil (Brasil é US$ 15,5 mil) Desemprego: 11,4% (Brasil é 11,8%) Inflação: 1,4% (Brasil é 4%) IDH: 0,887 (26º lugar, Brasil é o 79º)

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Gregorio Borgia/Associated Press Cartazes eleitorais rasgados na capital italiana; desemprego e PIB tépido preocupam

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