Folha de S.Paulo

No primeiro atendiment­o, no front, a prioridade é manter as pessoas vivas, seja quais forem as condições do local. Por isso os pacientes apresentam muitas complicaçõ­es

-

JOANA SÁ

enfermeira-chefe do CICV série de técnicas que facilitam muito a recuperaçã­o dos pacientes”, diz Joana Sá, enfermeira-chefe no centro, que trabalhou na República Democrátic­a do Congo, no Paquistão e no Afeganistã­o.

Antes de amputar uma perna, por exemplo, é importante esticar os nervos o máximo possível para que as terminaçõe­s nervosas fiquem mais longe do coto e da pele, e, consequent­emente, haja menos dores, explica Sá. O coto precisa estar redondo para se aplicar a prótese, e a sutura cirúrgica precisa ser na lateral. Muitas vezes, são colocados pinos e placas metálicas sem a devida higiene, o que causa infecções graves. NO FRONT “No primeiro atendiment­o, no front, a prioridade é manter as pessoas vivas, seja quais forem as condições do local. Por isso os pacientes apresentam muitas complicaçõ­es”, diz Sá.

Às vezes, a equipe tenta orientar por Skype pessoas que estão nos hospitais de campanha, dando instruções sobre procedimen­tos cirúrgicos. “O perigo é que, algumas vezes, podem rastrear o sinal e bombardear os locais.”

Outra preocupaçã­o é a chamada dor do membro fantasma.Amaioriada­spessoasqu­e têmmembros­amputadosc­ontinua a sentir dores no braço ou perna. As terminaçõe­s nervosas no local da amputação enviammens­agensaocér­ebro que o fazem acreditar que o membro ainda existe.

O pedreiro sírio Naim pensou em simplesmen­te esperar e morrer no local onde tinha pisado em uma mina, na fronteira entre Síria e Líbano. Mas algo o fez se arrastar pelos cotovelos e joelhos até a beira da estrada. Parou, acendeu um cigarro, emendou em outro, e ergueu a luzinha do isqueiro, na esperança de ser visto na escuridão de 21h.

Foi encontrado por um soldado libanês, levado para um hospital no país deste, e depois operado no estabeleci­mento da Cruz Vermelha, onde teve sua perna amputada do joelho para baixo. Acaba de colocar uma prótese.

“Os médicos insistem que eu preciso parar de fumar, dizem que a recuperaçã­o vai ser mais fácil, mas não posso. Se não tivesse acendido um cigarro, estaria morto agora”, brinca.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil