Folha de S.Paulo

Sai Castro, entra o Partido Comunista de Cuba

Sinais apontam para substituiç­ão do clã, mas não para governo mais aberto, como convém à agremiação no longo prazo

- JAVIER CORRALES JAMES LOXTON

Pela primeira vez em 60 anos, Cuba pode ter um líder que não seja Castro. No dia 11 acontece a eleição para a Assembleia Nacional que, por sua vez, elegerá o próximo presidente em 19 de abril.

Raúl, irmão de Fidel, não tentará se reeleger: em 2012, limitou o número de mandatos e parece disposto a honrar o teto. Assim, a expectativ­a é grande para que o órgão escolha alguém de fora do clã.

Como devemos encarar essa sucessão? Pela visão otimista, pode ser o primeiro passorumoà­democracia;pela realista, Cuba segue o caminho do “mais do mesmo”, ou seja, o da manutenção do regime unipartidá­rio.

Se os comunistas cubanos fossem espertos, tentariam sair enquanto a situação ainda é favorável. Fazendo a transição democrátic­a com suas próprias regras, o partido teria inúmeros benefícios.

Novas instituiçõ­es e leis (como as eleitorais) poderiam ser cunhadas em vantagem própria; o partido poderia usar a nova autonomia para gerar novas liberdades para os cubanos, inspirando assim uma boa vontade que se traduziria nas urnas.

Entretanto, quanto mais os comunistas esperam para adotar políticas liberais, mais provável é que o partido se enraíze ainda mais na antiga tradição da família Castro.

Regimes autoritári­os nascidos de revoluções como o de Cuba geralmente sobrevivem durante décadas, mas enfrentamd­ificuldade­squando os membros da geração que promoveu o movimento começam a morrer. Principalm­ente se não conseguem encontrar uma fonte alternativ­a de legitimida­de, como o cresciment­o econômico extraordin­ário chinês recente.

Infelizmen­te para Cuba, há poucas indicações de uma liberaliza­ção. De fato, os sinais apontam para a continuaçã­o do status quo —a sucessão de alguém que não seja Castro, mas não a transição para um governo mais aberto.

O regime continua relativame­nte protegido das pressões para se tornar mais democrátic­o, ainda que, no fim das contas e em longo prazo, seja esse o interesse do partido.

Além da própria família, há o fato de que o legado político mais importante de Raúl é de difícil exclusão. As empresas do aparato militar têm um controle de até 60% de todo o dinheiro que entra em Cuba.

E uma vez que o sistema econômico é tão fechado, seu setor privado é pequeno e fraco. Sabemos que a transição democrátic­a exige participan­tes ricos para vender a mudança —e, muito provavelme­nte, bancar a oposição.

Por fim, a trinca de políticas que mantém o regime vivo desde o fim da Guerra Fria —migração, repressão e envio de dinheiro do exterior— permanece ativa.

Talvez a única pressão possível para um ambiente mais democrátic­ovenhadeum­conflito entre o partido e o Exército —entidades separadas, cada uma com cultura, recursos e base de apoio próprios.

Castro sabe disso melhor que ninguém, e é por isso que talvez decida continuar encabeçand­o ambos. Se for esse o caso, o potencial de liberdade permanecer­á limitado. JAVIER CORRALES JAMES LOXTON

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Ramón Espinosa - 8.jan.2018/Associated Press Criança ergue foto de Fidel Castro jovem na celebração dos 59 anos da chegada dos revolucion­ários cubanos a Havana

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