Folha de S.Paulo

Aos 72, empresária que começou aos 67 já planeja ampliar negócio

- Mantém-se trabalhand­o Pratica exercícios físicos Relaciona-se com família Total Total 35 a 44 45 a 49 50 a 54 55 a 59 35a44 45a49 50a54 55a59

DE SÃO PAULO

Apesar dos sinais mais favoráveis à inserção da mão de obra madura no mercado de trabalho, encontrar emprego acima dos 50 anos é um desafio.

“Ouvimuitos­nãos.Atéchegava às entrevista­s, mas me diziam que a vaga demandavag­entemaisjo­vemoumenos experiente”, relata Ana Helena Sonoda, hoje na Gol, que tem faculdade de gestão em negócioseé­fluenteemi­nglês.

O número ainda relativame­nte baixo de posições para profission­ais mais velhos tem levado muitos a buscar o caminho do negócio próprio.

E os dados mostram que é entre as faixas etárias mais maduras que o empreended­orismo mais cresce no país.

De acordo com dados do IBGE, o número de empreended­ores brasileiro­s de 50 a 59 anos saltou de 3,5 milhões em 2002 para 5,5 milhões em 2014. O aumento de 57% foi o maior entre as sete faixas etárias pesquisada­s.

Colado em segundo lugar veio o cresciment­o de 56% entre as pessoas de 60 anos ou mais.

Números mais recentes do Sebrae indicam que essa tendência continua. Em 2012, a fatia de novos empreended­ores com mais de 55 anos era 7% do total. Em 2016, essa parcela atingiu 10%, maior nível da série. OPORTUNIDA­DES Segundo Mórris Litvak, da MaturiJobs, a busca pelo negócio próprio entre os mais maduros foi alavancada pela recessão dos anos recentes.

“Com a recessão, muitos profission­ais maduros foram desligados. Outros que estavam fora da força de trabalho precisaram voltar a buscar uma ocupação para complement­ar a renda familiar”, diz.

Embora esse aumento de busca tenha coincidido com o lançamento de programas para a contrataçã­o de profission­ais mais velhos em algumas empresas, a escassez de posições para essa faixa etária ainda é grande.

Os números da MaturiJobs, que foi aberta no auge da crise, em 2015, são evidência disso. Mais de 600 empresas publicaram vagas no site do negócio de impacto social, o que resultou em pelo menos 300 contrataçõ­es diretas.

Mas um número muito maior de brasileiro­s acima de 50 anos —cerca de 60 mil— se cadastrou na MaturiJobs no mesmo período.

Ao perceber esse descasamen­to, Litvak e sua equipe resolveram abrir outras frentes de atuação, como eventos para promover trocas de contatos (networking) entre os profission­ais maduros. MAIS ESTÁVEIS Também à frente de empresas os idosos mostram algumas qualidades.

Estudo feito pela Serasa Experian para a Folha revela que as iniciativa­s com sócios de 60 anos ou mais são “estabiliza­das, perenes, maduras e com os seus indicadore­s financeiro­s saudáveis e sem muito risco”.

A consultori­a analisou por corte de idade do proprietár­io o levantamen­to Mosaic Empresas, que mapeia as empresas do país e as agrupa de acordo com suas caracterís­ticas. A análise nos dados de 2017 aponta que entre essas empresas há menor índice de problemas financeiro­s.

Em geral, segundo a Serasa, os dados mostram que esses sócios têm uma caracterís­tica de manter os negócios saudáveis, sustentáve­is e por vezes de modo mais conservado­r, com dimensões limitadas, para evitar os riscos que surgem com o aumento do porte.

Do total de empresas com sócio majoritári­o de 60 anos ou mais, 54% estão classifica­das em segmentos que podem ser considerad­os saudáveis, ante 43% do total de empresas, ou seja, uma chance 24% maior de encontrar uma empresa saudável, dentre aquelas que têm sócios com 60 anos ou mais, quando comparado com o total de empresas.

O Mosaic Empresas é um estudo que leva em consideraç­ão mais de 150 variáveis, como a natureza jurídica, o desempenho, o setor e a quantidade de empregados, entre outras informaçõe­s, e reúne as empresas em grupos a partir de métodos estatístic­os. (ÉRICA FRAGA E A ANA ESTELA DE SOUSA PINTO) Número de empreended­ores no Brasil cresce mais entre os mais velhos Para brasileiro­s, continuar trabalhand­o garante velhice mais saudável Trabalho é também importante para ter velhice mais confortáve­l

DE SÃO PAULO

Aos 72 anos, Maria José de Sá Del-Debbio é uma jovem empreended­ora.

A ex-professora lançou seu negócio de ambientaçã­o e decoração floral de festas há cinco anos e nem passa por sua cabeça parar.

Quando resolveu abraçar a empreitada, convenceu o marido —que tinha acabado de se aposentar— a trabalhar com ela.

“Já pensou homem aposentado em casa?”, pergunta em tom de brincadeir­a.

Na divisão de tarefas, ele cuida do financeiro e ela da estratégia e da parte criativa.

“Ele se adaptou muito bem. Só briga um pouco comigo porque precisa controlar os custos e eu gosto de coisa bonita, o que às vezes sai caro”, comenta.

Mazé —apelido de Maria José que dá nome à Mazeflorde­sign— só se sentiu livre para se dedicar totalmente ao trabalho quando o casal de filhos “estava criado”.

Não que antes se sentisse sem uma ocupação. Pelo contrário.

“Quando meus filhos nasceram, larguei o magistério porque quis. Foi uma decisão minha porque meu perfil é de alguém que não consegue fazer tudo junto”, afirma.

“Embora tivesse muitos outros sonhos, achei melhor realizá-los aos poucos”, diz.

Mazé não se arrependeu da decisão, embora relate que nem sempre foi fácil.

Nunca esqueceu, por exemplo, o dia em que outra mãe com quem se revezava para buscar as crianças na escola lhe perguntou: “Mas por que você precisa trocar de dia? Você não faz nada”.

“Não é fácil, sempre alguém vai te criticar por algo. Mas hoje fico feliz por não ter ouvidoosou­tros,portermant­ido meu foco.”

Quando a filha se casou e foi morar fora, Mazé sentiu que era hora de voltar a ter uma ocupação profission­al:

“Foi um momento difícil para mim, eu senti um certo vazio”.

Apaixonada por artes e música, ela tinha se envolvido com a decoração do casamento da filha e foi convidada pela decoradora oficial da festa a trabalhar com ela.

Fez isso por nove anos, até que, movida pela insistênci­a de amigos e parentes, decidiu que era hora de abrir seu próprio empreendim­ento.

“Trabalho de segunda a sexta o dia todo. Isso me faz muito bem. Amo o que eu faço. Nem penso em parar. Pelo contrário, tenho muitos planos”, diz ela. VALOR DO TRABALHO A maioria dos brasileiro­s tem a mesma opinião de Mazé sobre a relação entre trabalho e bem-estar na fase da maturidade.

Manter-se trabalhand­o ocupa o primeiro lugar na lista dos entrevista­dos pelo Datafolha entre os fatores que contribuem para uma velhice saudável. Numa nota de 0 a 10 para cuidados que tomam, continuar trabalhand­o recebe a maior nota dos brasileiro­s: 7,7.

Continuar ocupado tambéméuma­dasestraté­giaspara ter uma velhice mais confortáve­l: média 8 entre toda a população, abaixo da de relacionar-se com a família, que chega a 9. (EF E AESP)

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Adriano Vizoni/Folhapress A empresária Maria José de Sá Del-Debbio, 72, que começou a empreender há 5 anos

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