Aos 72, empresária que começou aos 67 já planeja ampliar negócio
DE SÃO PAULO
Apesar dos sinais mais favoráveis à inserção da mão de obra madura no mercado de trabalho, encontrar emprego acima dos 50 anos é um desafio.
“Ouvimuitosnãos.Atéchegava às entrevistas, mas me diziam que a vaga demandavagentemaisjovemoumenos experiente”, relata Ana Helena Sonoda, hoje na Gol, que tem faculdade de gestão em negócioseéfluenteeminglês.
O número ainda relativamente baixo de posições para profissionais mais velhos tem levado muitos a buscar o caminho do negócio próprio.
E os dados mostram que é entre as faixas etárias mais maduras que o empreendedorismo mais cresce no país.
De acordo com dados do IBGE, o número de empreendedores brasileiros de 50 a 59 anos saltou de 3,5 milhões em 2002 para 5,5 milhões em 2014. O aumento de 57% foi o maior entre as sete faixas etárias pesquisadas.
Colado em segundo lugar veio o crescimento de 56% entre as pessoas de 60 anos ou mais.
Números mais recentes do Sebrae indicam que essa tendência continua. Em 2012, a fatia de novos empreendedores com mais de 55 anos era 7% do total. Em 2016, essa parcela atingiu 10%, maior nível da série. OPORTUNIDADES Segundo Mórris Litvak, da MaturiJobs, a busca pelo negócio próprio entre os mais maduros foi alavancada pela recessão dos anos recentes.
“Com a recessão, muitos profissionais maduros foram desligados. Outros que estavam fora da força de trabalho precisaram voltar a buscar uma ocupação para complementar a renda familiar”, diz.
Embora esse aumento de busca tenha coincidido com o lançamento de programas para a contratação de profissionais mais velhos em algumas empresas, a escassez de posições para essa faixa etária ainda é grande.
Os números da MaturiJobs, que foi aberta no auge da crise, em 2015, são evidência disso. Mais de 600 empresas publicaram vagas no site do negócio de impacto social, o que resultou em pelo menos 300 contratações diretas.
Mas um número muito maior de brasileiros acima de 50 anos —cerca de 60 mil— se cadastrou na MaturiJobs no mesmo período.
Ao perceber esse descasamento, Litvak e sua equipe resolveram abrir outras frentes de atuação, como eventos para promover trocas de contatos (networking) entre os profissionais maduros. MAIS ESTÁVEIS Também à frente de empresas os idosos mostram algumas qualidades.
Estudo feito pela Serasa Experian para a Folha revela que as iniciativas com sócios de 60 anos ou mais são “estabilizadas, perenes, maduras e com os seus indicadores financeiros saudáveis e sem muito risco”.
A consultoria analisou por corte de idade do proprietário o levantamento Mosaic Empresas, que mapeia as empresas do país e as agrupa de acordo com suas características. A análise nos dados de 2017 aponta que entre essas empresas há menor índice de problemas financeiros.
Em geral, segundo a Serasa, os dados mostram que esses sócios têm uma característica de manter os negócios saudáveis, sustentáveis e por vezes de modo mais conservador, com dimensões limitadas, para evitar os riscos que surgem com o aumento do porte.
Do total de empresas com sócio majoritário de 60 anos ou mais, 54% estão classificadas em segmentos que podem ser considerados saudáveis, ante 43% do total de empresas, ou seja, uma chance 24% maior de encontrar uma empresa saudável, dentre aquelas que têm sócios com 60 anos ou mais, quando comparado com o total de empresas.
O Mosaic Empresas é um estudo que leva em consideração mais de 150 variáveis, como a natureza jurídica, o desempenho, o setor e a quantidade de empregados, entre outras informações, e reúne as empresas em grupos a partir de métodos estatísticos. (ÉRICA FRAGA E A ANA ESTELA DE SOUSA PINTO) Número de empreendedores no Brasil cresce mais entre os mais velhos Para brasileiros, continuar trabalhando garante velhice mais saudável Trabalho é também importante para ter velhice mais confortável
DE SÃO PAULO
Aos 72 anos, Maria José de Sá Del-Debbio é uma jovem empreendedora.
A ex-professora lançou seu negócio de ambientação e decoração floral de festas há cinco anos e nem passa por sua cabeça parar.
Quando resolveu abraçar a empreitada, convenceu o marido —que tinha acabado de se aposentar— a trabalhar com ela.
“Já pensou homem aposentado em casa?”, pergunta em tom de brincadeira.
Na divisão de tarefas, ele cuida do financeiro e ela da estratégia e da parte criativa.
“Ele se adaptou muito bem. Só briga um pouco comigo porque precisa controlar os custos e eu gosto de coisa bonita, o que às vezes sai caro”, comenta.
Mazé —apelido de Maria José que dá nome à Mazeflordesign— só se sentiu livre para se dedicar totalmente ao trabalho quando o casal de filhos “estava criado”.
Não que antes se sentisse sem uma ocupação. Pelo contrário.
“Quando meus filhos nasceram, larguei o magistério porque quis. Foi uma decisão minha porque meu perfil é de alguém que não consegue fazer tudo junto”, afirma.
“Embora tivesse muitos outros sonhos, achei melhor realizá-los aos poucos”, diz.
Mazé não se arrependeu da decisão, embora relate que nem sempre foi fácil.
Nunca esqueceu, por exemplo, o dia em que outra mãe com quem se revezava para buscar as crianças na escola lhe perguntou: “Mas por que você precisa trocar de dia? Você não faz nada”.
“Não é fácil, sempre alguém vai te criticar por algo. Mas hoje fico feliz por não ter ouvidoosoutros,portermantido meu foco.”
Quando a filha se casou e foi morar fora, Mazé sentiu que era hora de voltar a ter uma ocupação profissional:
“Foi um momento difícil para mim, eu senti um certo vazio”.
Apaixonada por artes e música, ela tinha se envolvido com a decoração do casamento da filha e foi convidada pela decoradora oficial da festa a trabalhar com ela.
Fez isso por nove anos, até que, movida pela insistência de amigos e parentes, decidiu que era hora de abrir seu próprio empreendimento.
“Trabalho de segunda a sexta o dia todo. Isso me faz muito bem. Amo o que eu faço. Nem penso em parar. Pelo contrário, tenho muitos planos”, diz ela. VALOR DO TRABALHO A maioria dos brasileiros tem a mesma opinião de Mazé sobre a relação entre trabalho e bem-estar na fase da maturidade.
Manter-se trabalhando ocupa o primeiro lugar na lista dos entrevistados pelo Datafolha entre os fatores que contribuem para uma velhice saudável. Numa nota de 0 a 10 para cuidados que tomam, continuar trabalhando recebe a maior nota dos brasileiros: 7,7.
Continuar ocupado tambéméumadasestratégiaspara ter uma velhice mais confortável: média 8 entre toda a população, abaixo da de relacionar-se com a família, que chega a 9. (EF E AESP)