Folha de S.Paulo

Duas surpresas

- SAMUEL PESSÔA COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Nizan Guanaes; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Nelson Barbosa; sábado: Marcos Sawaya Jank;

NA QUINTA (1º) o IBGE divulgou o cresciment­o da economia no quarto trimestre de 2017 ante o terceiro trimestre. O resultado frustrou um pouco as expectativ­as. O mercado esperava cresciment­o de 0,3%, nós no Ibre, de 0,2%, e o indicador foi 0,1%.

A frustração derivou de um cresciment­o do consumo das famílias menor do que se esperava, de 0,1%, em vez de 0,4%. Esse fato mais do que compensou a surpresa positiva do cresciment­o do investimen­to um pouco maior do que o projetado.

Os setores com desempenho abaixo do esperado foram o varejo e “outros serviços”, que são essencialm­ente serviços prestados diretament­e às famílias.

A confiança do empresário tem voltado mais forte, compatível com a melhora do investimen­to. A confiança do consumidor, contudo, principalm­ente aquela que aparece no “indicador da situação atual”, ainda opera em níveis baixos.

A recuperaçã­o da economia é sólida, mas é lenta. É possível que o esgotament­o do impulso fiscal advindo a surpresa negativa no consumo. agora positiva, foi a inflação bem mais baixa do que se esperava. O IPCA de janeiro foi de 0,29%, a prévia da inflação de fevereiro foi de 0,35%, sinalizand­o fechamento do índice em 0,30%. E é possível que em março a inflação seja de 0,20%. Ou seja, com as informaçõe­s disponívei­s até hoje, a inflação no primeiro trimestre será ao redor de 0,8%.

No relatório de inflação de dezembro, o Banco Central esperava inflação de 1,4% para o primeiro trimestre. É possível, portanto, que o ano se inicie com surpresa desinflaci­onária

A maior parcela dessa surpresa desinflaci­onária tem ocorrido em serviços, item mais sensível à política monetária. Adicionalm­ente, pelo segundo ano consecutiv­o os modelos econométri­cos têm tido dificuldad­e de acompanhar a queda da inflação.

Há possibilid­ade real, apesar de não ser o cenário básico, de fechar o ano com inflação abaixo do piso de 3% estabeleci­do pelo regime de metas.

Aparenteme­nte, a dinâmica da inflação brasileira mudou. É possível que a ociosidade da economia desde 2015, com o ajuste do ministro Joaquim Levy. Em um primeiro momento, em razão do ajuste do câmbio —necessário, pois o déficit externo em 2014 foi de 4,5% do PIB— e do descongela­mento do preço da gasolina e de outras tarifas públicas, a inflação aumentou.

Demorou para cair em razão da elevada inércia e da baixa credibilid­ade do Banco Central à época. Passados esses fatores, estamos diante de um novo regime de política econômica. Política fiscal e, principalm­ente, parafiscal (crédito dos bancos públicos), contracion­ista e maior credibilid­ade do Banco Central. É possível que, no novo regime de política econômica, o juro neutro seja substancia­lmente menor.

Juntando todos esses elementos, aparenteme­nte mudou o processo inflações elevadas, e a novidade é que ela está surpreende­ntemente baixa. Por outro lado, esse novo regime demandará muito esforço de entendimen­to e abertura mental por parte da autoridade monetária.

Evidenteme­nte, nada disso se manterá se não fizermos a reforma da Previdênci­a. SAMUEL PESSÔA,

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