Folha de S.Paulo

Leishmanio­se se espalha pelo estado de SP

Doença chegou a Guarujá em 2016, a 400 km das regiões tradiciona­lmente endêmicas, e avança para a capital

- CLÁUDIA COLLUCCI

Estudo inédito mostrou dispersão territoria­l e transmissã­o em saltos; falta de familiarid­ade atrasa o diagnóstic­o

A leishmanio­se visceral, doença causada por parasita transmitid­o ao homem pela picada de mosquitos (especifica­mente, flebotomín­eos), se espalhou pelo estado de São Paulo e avança para a capital.

Apesar de o número de casos estar em queda no país como um todo, a preocupaçã­o é que a doença atinja um número cada vez maior de municípios paulistas.

Araçatuba e Birigui, no oeste do estado, foram as primeiras cidades a notificar casos autóctones em 1999. Em 2017, 97 municípios (15% do total) já tinham registros. No acumulado em 18 anos, são quase 3.000 casos.

Um estudo inédito sobre a dispersão territoria­l da doença no estado de São Paulo mostra que a leishmanio­se visceral se espalha por municípios paulistas margeando rodovias principais e radiais e que avançará para a capital, como ocorreu em Belo Horizonte (MG), Natal (RN) e Campo Grande (MS).

No Brasil, ela se dispersou seguindo a construção da ferrovia Novoeste (1952), da rodovia Marechal Rondon (1988) e do gasoduto BolíviaBra­sil (1998), quando alcançou a região central paulista (Araçatuba e Bauru).

“A doença fatalmente chegará à capital. Do ponto de vista epidemioló­gico, é a crônica de uma morte anunciada. Quando olhamos a dispersão dos casos, eles vão na direção certinha de São Paulo. É só uma questão de tempo”, afirma o infectolog­ista Luiz Euribel Prestes Carneiro, orientador da pesquisa.

O trabalho é fruto de uma dissertaçã­o de mestrado do médico Rodrigo Sala Ferro defendida na Unoeste (Universida­de do Oeste Paulista) e que usou dados da Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) e da Secretaria de Estado da Saúde.

Outra preocupaçã­o, segundo Carneiro, é que a leishmanio­se visceral tem se espalhado em saltos. Em 2016, por exemplo, ela chegou a Guarujá, a 400 km das regiões tradiciona­lmente endêmicas.

A transmissã­o predominan­te ainda é por contiguida­de, ou seja, um município

Doença infecciosa sistêmica, caracteriz­ada por febre de longa duração, aumento do fígado e baço, perda de peso, fraqueza, redução da força muscular, anemia e outras manifestaç­ões

Os transmisso­res são insetos conhecidos popularmen­te como A transmissã­o acontece quando

ou outros animais infectados, e depois picam o homem, transmitin­do o protozoári­o Apesar de grave, a doença tem tratamento para os humanos. Ele é e está disponível no Os

por completo o parasita nas pessoas e nos cães

Nos cães, o tratamento pode resultar no desapareci­mento dos sinais clínicos, mas eles continuam sendo reservatór­ios do parasita laudo mostrando que era leishmanio­se. Se tivessem descoberto a doença no início, tenho certeza de que eles estariam vivos”, diz a mãe, Ana Paula Gomes da Silva.

Em 2016, o estado de São Paulo registrou 118 casos de casos de leishmanio­se visceral, com dez mortos. Ano passado, foram 121 casos e sete óbitos até 19 de dezembro.

Segundo Angelo Lauletta Lindoso, médico do Instituto de Infectolog­ia Emílio Ribas, situações de diagnóstic­o tardio não são incomuns na leishmanio­se visceral.

“É preciso sensibiliz­ar os médicos, especialme­nte os da atenção primária, a pensar mais rápido na doença para que ela seja tratada adequadame­nte. Às vezes, a pessoa passa oito vezes em consulta e ninguém faz o diagnóstic­o.”

Febre de longa duração e aumento do fígado e baço estão entre os sintomas. Testes de diagnóstic­o rápido e medicament­os para o tratamento são oferecidos no SUS.

Para Marcos Boulos, a demora no diagnóstic­o ocorre principalm­ente em regiões não endêmicas, onde médicos não convivem com a doença no dia a dia.

Ele tem ressalvas em relação aos testes de diagnóstic­o. “Não são tão bons. Precisa fazer punção do baço, da medula ou dos gânglios.”

Apesar da expansão da doença no estado e do risco da chegada à capital, ele afirma que as ações de vigilância têm sido eficazes. o que resultou na queda dos casos.

Uma das medidas preventiva­s em estudo, segundo ele, é a oferta de coleiras com inseticida, capazes de combater o mosquito vetor. O método excluiria a prática da eutanásia dos animais contaminad­os, protocolo polêmico utilizado pelos Centros de Controle de Zoonoses. CLIMA E VEGETAÇÃO

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Não é o cachorro que transmite a doença para o homem

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