A doença fatalmente chegará à capital. É a crônica de uma morte anunciada. Quando olhamos a dispersão dos casos, eles vão na direção certinha de São Paulo. É só uma questão de tempo
LUIZ EURIBEL PRESTES CARNEIRO
Infectologista e orientador da pesquisa que mapeou dispersão da doença que possui o mosquito, cães ou indivíduos infectados transmitem para o vizinho.
Em alguns casos, a transmissão em saltos tem explicação parecida: a pessoa se muda e leva o cão infectado para outra cidade. Ali ele é picado pelo mosquito, que, por sua vez, pica o homem.
Mas esse não foi caso do Guarujá. “Quebramos a cabeça e não encontramos o vetor [mosquito infectado]”, afirma o infectologista Marcos Boulos, coordenador de controle de doenças da Secretaria de Estado da Saúde.
A principal hipótese, segundo ele, é que existam outros vetores (possivelmente mosquitos que vivem em regiões de mata) envolvidos nessas transmissões em saltos. LETALIDADE A maioria das pessoas infectadas não desenvolve a leishmaniose visceral. Mas quando não diagnosticada e tratada a tempo, ela mata em 90% dos casos. Não há vacina que previna a doença.
O despreparo dos médicos em fazer o diagnóstico precoce é uma das causas dessas mortes. O caso de Guarujá é, de novo, exemplar.
No final de agosto de 2016, os irmãos Carlos Eduardo, de um ano e sete meses, e Carlos Gabriel, de quatro anos, foram internados com febre e queda de plaquetas.
O menor morreu no dia seguinte, e o óbito foi registrado como “morte natural”. Carlos Gabriel permaneceu internado, mas sem diagnóstico da doença, que só foi fechado após três meses.
“Disseram que ele tinha leucemia, depois leptospirose. Só no fim é que veio um
O estudo mostrou ainda que em regiões com mata preservada, como litoral sul, Itapetininga e vale do Paraíba, não há incidência da doença. Ela se concentra em áreas do oeste e nordeste do estado, onde a floresta tropical foi substituída por lavouras, pastagens e plantações de cana.
A temperatura de superfície também teria papel na dispersão do mosquito. Em regiões de planalto, que é seco no inverno e úmido e quente no verão, há número maior de casos da doença. Áreas com saneamento deficiente também são propícias para a proliferação do vetor.