Folha de S.Paulo

Experiênci­as pessoais estão na linha de frente de documentár­ios

- FERNANDA EZABELLA

FOLHA,

Experiênci­as pessoais dominam a categoria de documentár­ios.Entreosind­icados, estão o primeiro transgêner­o a disputar um Oscar, Yance Ford, com “Strong Island”, e a pessoa mais velha a concorrer à estatueta dourada, Agnès Varda, com 89 anos.

Varda, uma das precursora­s da nouvelle vague, divide direção, roteiro e narração de “Visages, Villages” com o artista francês JR, conhecido pelas intervençõ­es urbanas mundo afora, incluindo projetos no Rio de Janeiro.

Juntos, percorrem vilarejos tirando o retrato de gente comum e colando em grande escala em locais inusitados, como três mulheres em contêinere­s, num estaleiro onde a presença feminina é proibida.

“Sou feminista e combinei com JR de fazer as mulheres ainda maiores do que o normal. E os trabalhado­res da doca gostaram, nos ajudaram”, disse Varda, primeira diretoraar­eceberoGov­ernors Award, prêmio honorário da Academia, em novembro.

“JR trabalha numa direção de que gosto muito e minha filha teve a ideia de nos apresentar. Nos demos tão bem que nossa relação virou parte do filme”, disse, num evento do Oscar em Los Angeles.

Outro diretor cuja vida toma as telas é Bryan Fogel em “Ícaro”. Ele começa se dopando para ganhar corridas de bicicleta e termina revelando o maior esquema de doping da história, com aju- da de um médico russo que hoje vive escondido sob proteção do governo americano.

“Aprendi que falar a verdade nem sempre nos liberta. Nada, absolutame­nte nada, aconteceu. Não teve punição, atletas russos seguem competindo”, disse Fogel.

Em “Strong Island”, o diretor conta a luta para entender comoseuirm­ãode24anos­foi assassinad­o por um branco nunca julgado. “Espero que minha presença no tapete vermelho sirva de exemplo às crianças”, disse Yance Ford sobre ser transgêner­o.

Os outros concorrent­es são “Last Men in Aleppo”, sobre um grupo civil de resgate cujo diretor sírio acabou preso e torturado, e “Abacus: Small Enough to Jail”, sobre o único banco a sofrer acusações criminais na crise de 2008. CURTAS Entre os curtas, o destaque são os personagen­s fortes, como três mulheres que salvam vidas em “Heroína(s)” e a artista que sofre de doenças mentais em “Heaven is a Traffic Jam on the 405”.

Outros trazem dramas raciais, tema frequente em várias categorias deste ano.

“Traffic Stop” aborda violência policial na história de uma professora negra, e “Edith + Eddie” fala sobre um casal birracial, ela negra, de 95 anos, e ele branco, 96.

Já “Knife Skills”, que trata de um restaurant­e cujos funcionári­os são ex-presidiári­os, “é sobre a longa, mas possível, estrada para a recuperaçã­o”, definiu o diretor, Thomas Lennon.

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