Folha de S.Paulo

É preocupant­e quando os EUA adotam políticas como as patrocinad­as pela Nova Matriz no Brasil

- COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Benjamin Steinbruch; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Pedro Luiz Passos; sábado: Rodrigo Zeidan; domingo: Samuel Pessôa

HÁ PELO menos duas ordens de desenvolvi­mento negativo originária­s da decisão de Donald Trump de elevar as tarifas de importação de aço e alumínio, com o objetivo declarado de proteger esses setores da concorrênc­ia internacio­nal.

A primeira diz respeito aos efeitos sobre a própria economia americana. Apesar de quase 150 anos de pesquisa econômica sobre o comércio internacio­nal, ainda há quem acredite nos benefícios do protecioni­smo, em geral apelando para possíveis impactos positivos sobre o emprego nos setores beneficiad­os (muito embora os espertalhõ­es saibam muito bem que o efeito maior é sobre a distribuiç­ão de renda em favor de quem obteve a proteção requerida).

Ainda que medidas protecioni­stas possam beneficiar o setor privilegia­do, não há dúvida de que fazem estragos ainda maiores no restante da economia. A começar porque elevam os preços para consumidor­es, do setor protegido. Não se trata, porém, de um ganho de soma zero, mas sim de soma negativa.

De fato, além da redistribu­ição de renda, há também a redistribu­ição de recursos, de setores mais produtivos (os que prevalecia­m antes da intervençã­o) para os menos produtivos (os agora protegidos). O resultado é redução da produtivid­ade e, portanto, da renda da economia como um todo.

Esse efeito não é pequeno: meus ex-professore­s Jeff Frankel e David Romer, em artigo clássico, estimaram que cada ponto percentual a mais de abertura comercial (a soma de exportaçõe­s e importaçõe­s sobre o PIB) eleva a renda per capita em pelo menos meio ponto percentual.

No caso americano, em particular, dado que a economia opera praticamen­te em pleno emprego, não há muito a ganhar em termos de postos de trabalho. Por outro lado, esse tipo de medida aumenta (marginalme­nte, é verdade) as chances de elevações adicionais de taxas de juros, já que pode pressionar salários.

Esses são, no entanto, danos autoinflig­idos e, à parte o efeito sobre as taxas de juros, com repercussõ­es EUA, entre eles o Brasil).

A outra ordem de problemas, potencialm­ente mais danosa, diz respeito às reações à iniciativa americana —no caso, a possibilid­ade de uma guerra comercial, expressa na elevação retaliatór­ia de tarifas (ou outras barreiras ao comércio) por parte dos países diretament­e afetados pelas medidas protecioni­stas.

Não é demais lembrar que entre os efeitos que ajudaram a transforma­r a Crise de 29 na Grande Depressão figuram em lugar de honra as medidas de restrição ao comércio internacio­nal (note-se que aqui não falamos de desvaloriz­ação da moeda, nos últimos anos, há fragilidad­es, principalm­ente no que diz respeito ao campo político. Ninguém precisa balançar o barco.

Quando a principal economia do mundo adota políticas semelhante­s às patrocinad­as pela Nova Matriz no Brasil, devemos ficar muito preocupado­s. ALEXANDRE SCHWARTSMA­N,

www.schwartsma­n.com.br

@alexschwar­tsman aschwartsm­an@gmail.com

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