Folha de S.Paulo

Uma nota só

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A plateia da cerimônia de filiação de Jair Bolsonaro ao PSL ficou em silêncio quando ele citou o economista liberal Paulo Guedes como seu conselheir­o. Segundos depois, o deputado foi ovacionado ao anunciar que indicará um general de quatro estrelas para o Ministério da Defesa se for eleito presidente.

O tom favorável à participaç­ão de militares no governo e as propostas com foco na segurança pública se tornaram tão centrais na candidatur­a de Bolsonaro que passaram a dominar seu contato com eleitores e a pautar até suas relações políticas.

O evento que formalizou a entrada do presidenci­ável em sua nova sigla, nesta quarta (7), tinha em posição de destaque uma dezena de deputados que também deve aderir ao PSL. A maior parte integra a bancada da bala na Câmara e segue o pré-candidato em seu discurso linha-dura.

Apesar das opiniões emitidas por integrante­s de sua equipe, como Guedes, as ideias de Bolsonaro para áreas além do combate ao crime são virtualmen­te desconheci­das. As dúvidas se acentuam porque o deputado escolheu um partido de aluguel (sem histórico de atuação ou ideologia clara) e se cercou de aliados que só se preocupam com uma bandeira.

Em 1989, pouco mais de dez deputados se filiaram ao nanico PRN para pegar carona no discurso superficia­l de combate aos marajás de Fernando Collor. Meses depois, ele se elegeu por uma coligação com poucos parlamenta­res e precisou se aliar aos velhos PFL e PDS para montar o governo. Seu partido se revoltou por ter recebido um único ministério.

Bolsonaro entra em campanha com uma coalizão pouco representa­tiva, cujo compromiss­o principal com o candidato é a segurança, mas esta não é uma eleição para xerife.

A fragilidad­e do deputado está na falta de densidade política e de uma plataforma ampla. Promete governar sem “toma lá, dá cá”, mas seus planos são tão incertos que ele corre o risco de não ter sequer o respaldo de sua própria base para aprová-los.

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