Folha de S.Paulo

Trapalhada de Doria

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Em seus prováveis últimos dias à frente da Prefeitura de São Paulo, João Doria (PSDB) publicou decreto que estende a ex-prefeitos os serviços de segurança pessoal prestados por um braço da Polícia Militar ao chefe do Executivo municipal. A proteção vale por um ano a contar da saída do cargo.

Ao que tudo indica, Doria deve abandonar o posto em abril para disputar o governo do estado no pleito de outubro —teria, portanto, segurança particular da PM, às expensas do poder público, durante a campanha eleitoral.

A primeira versão do decreto ensejava uma série de dúvidas, até mesmo quanto a sua legalidade. Como Doria obteria benefícios pessoais, seria possível alegar que a medida feria os princípios da moralidade e da impessoali­dade da administra­ção pública.

O diretório municipal do PT informou que entraria, com base nesse raciocínio, com uma ação popular contra o prefeito.

Ainda que se questionem os méritos jurídicos da tese, não há dúvida de que, ao menos no aspecto ético, Doria incorreu em erro.

Se considerav­a essencial conceder a ex-prefeitos a prerrogati­va, Doria deveria ter sugerido um projeto de lei nesse sentido ao Legislativ­o. Por óbvio, não deveria estar entre os favorecido­s pela proposta, como só ficou definido em nova redação do decreto.

A medida atabalhoad­a contribui para um desgaste adicional de sua imagem, ainda mais tratandose de alguém que planeja renunciar ao cargo após apenas um ano e três meses de mandato.

A esse respeito, é curioso notar que Doria, talvez por ter disputado uma única eleição até hoje, parece não ter desenvolvi­do as intuições de candidato. Em mais de uma ocasião, aventurou-se em empreitada­s de benefício duvidoso e custo político elevado.

Caso mais notório foi o afã em credenciar-se à sucessão de Michel Temer (MDB), afinal frustrado, lhe rendeu a imagem de prefeito pouco interessad­o em sua cidade.

Foi visto como desleal, ademais, devido à disputa interna travada com seu padrinho político, o governador Geraldo Alckmin, pela vaga de candidato do PSDB ao Planalto.

Agora, em troca de uma insignific­ância, o tucano correu o risco de parecer mais um aproveitad­or de regalias do poder público.

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