Folha de S.Paulo

Rio, Haiti, Araguaia

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RIO DE JANEIRO - A ação militar brasileira no Haiti foi um ensaio para a intervençã­o no Rio. Esta, por sua vez, é um laboratóri­o para o Brasil. À luz desse raciocínio, enunciado pelas Forças Armadas, vale ouvir o que pensa o general Augusto Heleno, ex-comandante das tropas nacionais no país caribenho.

“A hora em que começarem as operações pontuais [do Exército no Rio], vai aparecer um monte de cara chiando sobre direitos humanos. Se os humanos direitos não têm direitos humanos, primeiro temos que consertar isso”, disse o general, hoje na reserva, em seminário sobre segurança pública realizado nesta quarta (7), na Escola Superior de Guerra, no Rio.

“O verbo da missão é eliminar. Ou bota na cadeia, ou mata”, continuou Heleno. Botar na cadeia tem um problema, no entanto: “Não adianta prender o traficante e, dois dias depois, uma audiência de custódia soltar”. Com isso, resta só uma opção.

Para o general, o Brasil está prestes a virar um narcopaís, mas isso pode ser evitado resgatando as lições de um dos piores episódios da ditadura. “A Colômbia ficou 50 anos em guerra civil porque não fizeram o que fizemos no Araguaia”, disse, sendo vivamente aplaudido pelo auditório predominan­temente militar.

O que o Exército fez no Araguaia foi executar mais de 40 guerrilhei­ros detidos. Crime, mesmo em tempos de guerra. Mas, para isso, também há solução: “Nosso ordenament­o jurídico precisa de patriotism­o para acelerar determinad­as providênci­as e permitir que a gente tenha resultados que nos animem a retomar o protagonis­mo do Estado no uso da violência.”

Pode-se argumentar que, estando na reserva, o general não fala pelas Forças Armadas. Sua bem-sucedida carreira e a calorosa recepção que seus pontos de vista tiveram entre a plateia de militares da ativa, no entanto, mostram que o ovo da serpente está colocado, novamente. marco.canonico@grupofolha.com.br MATIAS SPEKTOR

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