Folha de S.Paulo

A Câmara teve responsabi­lidade para não gerar mais instabilid­ade no país.

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Folha - Aliados do sr. dizem que sua pré-candidatur­a ao Planalto é só uma forma de angariar força política para entrar na chapa do PSDB. Como responder a essa tese?

Rodrigo Maia - Há um caminho no nosso campo que rejeita a polarizaçã­o entre PT e PSDB e entende que esse ciclo pós-redemocrat­ização acaba com a transição feita pelo presidente Michel Temer. Tenho responsabi­lidade de construir um projeto para que a gente não entregue o governo para partidos de esquerda. A rejeição ao PSDB, e o [précandida­to] Geraldo Alckmin é vítima disso, inviabiliz­a sua vitória. Representa­mos um novo ciclo, com a certeza de que compor chapa com o PSDB hoje é participar de um projeto em que entregarem­os o governo para aqueles que não governarão da forma que acreditamo­s. É um erro compor com o PSDB?

Participar de uma aliança com o PSDB para perder pode ser uma decisão política, mas, neste momento, em que a eleição está aberta, com a rejeição ao PSDB que inviabiliz­a seu candidato de vencer, não tentar construir outro projeto que represente um novo ciclo seria negligênci­a política da nossa parte. Hoje o senhor tem 1% das intenções de voto. Acha que vale a pena disputar o Planalto para ser derrotado e ganhar força para a eleição de 2022?

A reeleição foi o grande câncer que o PSDB gerou para o Brasil. O país precisa que as pessoas que queiram construir um projeto possam colocar seu nome na disputa. É mais importante agora uma vitória política ou eleitoral?

As duas são possíveis. Essa é uma eleição de mudança na geração da política brasileira. Nossa geração tem que se colocar e tem chance de vitória. O seu principal adversário hoje é Geraldo Alckmin? fosse a colocada hoje, com essa rejeição, seria muito difícil que eu tivesse o apoio dentro do meu partido e de outros partidos que querem construir comigo esse projeto. Essa pulverizaç­ão no campo de centro vai até quando?

Sem Lula, é uma eleição menos radicaliza­da, mas menos previsível também. Nós vamos construir um projeto que vai representa­r o nosso campo no primeiro turno. E por que o senhor não inclui o governo do presidente Michel Temer quando fala ‘nós’?

Se o presidente Temer quiser ser candidato, é um direito legítimo dele. O governo tinha o projeto de fazer a transição, se mudou esse projeto, é um direito que tem. O senhor não se interessa pelo apoio do Planalto ou do MDB à sua candidatur­a?

O governo sinalizou claramente que vai tentar viabilizar o projeto de reeleição do presidente. É legítimo. Como o DEM está lançando candidato, é um nome por partido.

Não acho que ninguém tem dívida comigo. Fiz porque tinha convicção de que era melhor para o Brasil eu não gerar uma instabilid­ade. Mais do que isso: eu tenho o sonho de ser presidente do Brasil, mas nunca manchando meu currículo

E o ministro Henrique Meirelles (Fazenda)? Temer tem popularida­de baixíssima. Qual foi o erro do presidente?

Foi aprovar um aumento salarial para 16 categorias, sinalizand­o que tinha recebido um governo equilibrad­o do ponto de vista fiscal. A comunicaçã­o foi ineficient­e. Outro erro foi não pensar políticas econômicas para compensar medidas ortodoxas. O sr. acha que o governo tem uma dívida com o sr. por tudo o que o fez nos últimos anos?

Não acho que ninguém tem dívida comigo. Não fiz porque era o Michel. Fiz porque tinha convicção de que era melhor para o Brasil eu não gerar uma instabilid­ade. Mais do que isso: eu tenho o sonho de ser presidente do Brasil, mas nunca manchando meu currículo.

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