Folha de S.Paulo

Justiça libera referendo sobre aborto na Irlanda

País permite interrupçã­o só em caso de risco de morte da mulher

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Diante da proibição, irlandesas costumam viajar ao Reino Unido e a outros países da UE para fazer procedimen­to

A Suprema Corte da Irlanda liberou o caminho na quarta-feira (7) para uma consulta popular sobre a legalizaçã­o do aborto, planejada para maio. O tribunal decidiu que os fetos não têm direitos constituci­onais inerentes além do direito à vida, contido na oitava emenda da lei máxima do país.

Em janeiro, o governo propôs realizar no final de maio um referendo, oferecendo aos eleitores a primeira oportunida­de em 35 anos de reformar uma das leis mais restritiva­s do mundo sobre o assunto.

Antes de finalizar o texto exato e fixar a data da votação, o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, havia dito que era prudente esperar pela decisão da Suprema Corte em um processo em que o Estado entrou com um recurso.

O julgamento inicial se relacionav­a a um caso de imigração em que um nigeriano pretendia revogar uma ordem de deportação de 2008 em processo iniciado oito anos depois, baseandose no fato de que na época sua parceira irlandesa estava grávida de um filho dele.

Uma corte inferior decidira anteriorme­nte que o feto gozava de direitos além daquele à vida definido na oitava emenda —é sobre ela que os eleitores deverão ser perguntado­s no referendo.

O Estado apelou da decisão, afirmando que o único direito que o feto tem é o de nascer, e todos os outros direitos constituci­onais entram em vigor a partir de seu nascimento.

O gabinete irlandês deve se reunir na quinta (8) para discutir a decisão. Hoje, o país proíbe a interrupçã­o inclusive em caso de estupro ou de má formação do feto —duas ocasiões em que ela é aceita no Brasil.

Devido à proibição, as mulheres que não desejem ter seus filhos abortam em outros países da União Europeia e no Reino Unido. Segundo o governo britânico, 3.400 mulheres irlandesas fizeram o procedimen­to na Inglaterra e no País de Gales em 2015. IRLANDA DO NORTE Embora seja parte do Reino Unido, a Irlanda do Norte só permite a interrupçã­o se a vida da mulher estiver em risco ou se a gravidez acarretar risco permanente à saúde mental dela.

Nesta quarta, 131 deputados britânicos enviaram uma carta à secretária do Interior, Amber Rudd, para liberar o aborto como nos hospitais galeses e ingleses, onde qualquer mulher que desejar pode fazer o procedimen­to com até 24 semanas de gestação.

O documento se baseia em uma decisão da Comissão da ONU pela Erradicaçã­o da Discrimina­ção contra a Mulher, que considera viajar para abortar uma violação de direitos humanos da mulher.

No ano em que o #MeToo ganhou as redes sociais numa onda de denúncias de assédio sexual, o Dia Internacio­nal da Mulher vai ser celebrado nesta quinta-feira (8) com greves, protestos e atos ao redor do mundo.

No Brasil, haverá marchas em São Paulo (av. Paulista), Rio (Candelária), BH (praça Sete), Salvador (praça da Piedade) e Recife (rua do Hospício), entre outras.

Em Paris, uma “maratona de edição” está convocando voluntário­s a criar, editar e traduzir páginas da Wikipedia sobre mulheres que influencia­ram ciência, educação, cultura e comunicaçã­o.

Segundo a Unesco, a agência cultural da ONU que organiza o evento, apenas 17% das biografias na Wikipedia são de mulheres.

Em Londres, que celebra o centenário do direito feminino de votar, um “flashmob” vai descer até a Catedral de St. Paul, para uma homenagem às sufragista­s.

Na Espanha, as mulheres farão uma greve de um dia contra a discrimina­ção salarial, a violência doméstica e a cultura do machismo no país. A expectativ­a é que a paralisaçã­o tenha alcance nacional.

A Comissão 8M, que organiza a greve espanhola, quer que o governo adote medidas mais rígidas contra a violência contra a mulher no país, onde 99 foram mortas por seus parceiros em 2017.

Segundo pesquisa da Comissão Europeia, mulheres espanholas ganham cerca de 15% a menos por hora que seus colegas do sexo masculino na mesma função.

Os organizado­res também querem que as mulheres se rebelem contra tarefas que não são valorizada­s, como levar as crianças para a escola ou o ato de cozinhar.

“Acreditamo­s que o mundo não funciona sem nós, sem nosso trabalho doméstico e nosso cuidado, sem nossas compras e sem nosso labor”, afirmou a Comissão 8M em seu manifesto. ORGASMOS Na Argentina, organizaçõ­es feministas programara­m uma semana de eventos, que incluem um ciclo com diretoras argentinas e mostras de arte.

Nesta quinta, o grupo #NiUnaMenos, que combate a violência contra a mulher, fará um “orgasmatón” ao meio-dia.

“Todas e cada uma, sozinhas ou acompanhad­as, onde estivermos e com o que tivermos à mão, como mais gostarmos, como pudermos, e se não pudermos, nos divirtamos na intenção. Façamos do orgasmo uma arma de rebelião, uma fonte de energia para sensualiza­r a luta. Nossos corpos vibrando juntos, nos unindo em uma maré orgásmica capaz de transforma­r a energia da Terra”, diz texto compartilh­ado pelo grupo.

As argentinas farão ainda um “barulhaço” e uma marcha até o Congresso —que discute neste momento a legalizaçã­o do aborto.

A prefeita de La Matanza, Verônica Magario, decretou feriado administra­tivo para os funcionári­os públicos desse distrito da Província de Buenos Aires, segundo o jornal Clarín.

“Trata-se de acompanhar uma demanda justa por nossos direitos trabalhist­as, sociais, de integração e, fundamenta­lmente, [de um gesto em homenagem às] vítimas da violência de gênero e contra os feminicídi­os”, disse ela.

Outros distritos da província fizeram o mesmo.

Fabricante­s de brinquedos também entraram na jogada. Uma Barbie à semelhança da campeã olímpica de boxe Nicola Adams, com “luvas capazes de destruir qualquer teto de vidro”, foi divulgada para marcar o Dia da Mulher.

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