Folha de S.Paulo

Quem cobra e paga caro pela gasolina

- VINICIUS TORRES FREIRE

A GASOLINA é cara por causa dos impostos. Ficou ainda mais cara depois do impostaço de Michel Temer, em julho do ano passado. Nesta prétempora­da eleitoral, o governo abriu os ouvidos para a chiadeira popular contra o aumento dos combustíve­is. Eleitoreir­a ou não, é uma ideia de jerico reduzir imposto, ainda mais para baratear o uso de carros.

Antes de discutir o que fazer com os impostos da gasolina, convém ter uma noção de como é composto o preço do combustíve­l nos postos e de onde veio o aumento recente.

No estado de São Paulo, impostos estaduais e federais levavam 45% do preço médio da gasolina nos postos, neste mês. A Petrobras ficava com quase 29%. Os produtores do etanol que vai na mistura ficam com 13%.

Nessa conta, a margem de distribuid­oras e postos é 13%, segundo estimativa da Petrobras para a média das principais capitais do do que se vê em São Paulo.

Dada essa composição do preço e considerad­o o custo do combustíve­l nas refinarias e nas usinas neste começo de março, o preço médio da gasolina deveria ser de R$ 4,01 em São Paulo. Na média, está por aí, R$ 3,99, segundo a pesquisa semanal da Agência Nacional do Petróleo.

Na semana do aumento do imposto de julho de 2017 (de PIS/Cofins), a gasolina paulista custava em média R$ 3,23. De onde veio inteira e imediatame­nte repassado para o preço nos postos: alta de 33 centavos. Outros 14 centavos, por aí, parecem ter vindo do aumento do preço do etanol anidro (27% do litro do que é vendido como gasolina comum). O resto veio do custo do fornecedor da gasolina, basicament­e Petrobras, e de alguma pequena variação nas margens de distribuiç­ão e revenda.

Sim, o etanol está caro, em particular o etanol anidro, R$ 1,97 o litro, bem mais salgado que a gasolina nas refinarias da Petrobras (R$ 1,57, preço sem impostos e custo de distribuiç­ão). O etanol que vai direto caro que a gasolina porque paga menos imposto federal e estadual.

O governo fez o impostaço da gasolina de julho de 2017 porque está quebrado. Na hipótese remota em que pudesse abrir mão de receita, baixando alíquotas de impostos, a gasolina não deveria ter prioridade. Obviamente não serão os estados que baixarão o ICMS sobre a gasolina. Enfim, por que privilegia­r e incentivar o uso de carros?

Se é para arrecadar menos ou gastar mais, necessidad­es urgentes não faltariam. Por exemplo, o governo cogita fazer um remendo no Bolsa Família a fim de compensar o aumento do preço do botijão de gás, que pesa muito no orçamento das famílias mais pobres, isso quando há fogão ou o que cozinhar. Mas menos enrolado, eficaz e justo seria reajustar logo o Bolsa Família. mágica a fim de baixar o preço da gasolina ou de outros combustíve­is de veículos. Difícil imaginar como, sem perder receita ou sem criar um subsídio cruzado (algum contribuin­te pagaria a conta da redução do imposto do combustíve­l). vinicius.torres@grupofolha.com.br

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