Folha de S.Paulo

Mulheres casadas comandam 6,8 milhões de famílias

- JOANA CUNHA

O avanço feminino no mercado de trabalho veio acompanhad­o de uma explosão na quantidade de famílias chefiadas por mulheres no Brasil neste século.

De 2001 a 2015, o número de núcleos comandados por mulheres subiu de 14,1 milhões para 28,9 milhões, conforme estudo coordenado pela Escola Nacional de Seguros com base na antiga pesquisa Pnad, do IBGE.

O salto reflete o aumento da gravidez na adolescênc­ia, que pode resultar em abandono dos estudos pelas mães solteiras e na feminizaçã­o da pobreza, segundo o demógrafo José Eustáquio Alves, um dos responsáve­is pelo estudo.

A novidade, diz Alves, porém, é que esse fenômeno se acentuou nas famílias de núcleo duplo, ou seja, de casais com e sem filhos. No período, o número de mulheres chefes passou de 1 milhão para 6,8 milhões nos casais com filhos. Nos casais sem filhos, foi de 339 mil famílias para 3,1 milhões.

Para Maria Helena Monteiro, diretora da Escola Nacional de Seguros, o papel da mulher passa por uma “revolução” tanto no trabalho quanto na vida familiar, mas ainda há disparidad­es.

“A mulher ultrapasso­u o homem em todos os níveis educaciona­is, elevou a participaç­ão no mercado de trabalho, reduziu diferenças salariais. Mas há enorme disparidad­e no tempo dedicado a afazeres domésticos e cuidados com filhos e idosos. Ela ainda carrega a maior responsabi­lidade nisso, o que sobrecarre­ga e limita, em muitos casos, a ascensão profission­al”, diz Monteiro.

Estudo divulgado pelo IBGE nesta quarta (7) com base na pesquisa nacional Pnad Contínua aponta que as mulheres dedicaram 73% a mais de horas a cuidados de pessoas ou afazeres domésticos do que homens em 2016. Foram 18,1 horas semanais para as mulheres e 10,5 horas para os homens.

A desigualda­de é maior no Nordeste, onde a dedicação de mulheres a tais atividades é 80% superior à dos homens. A distorção também cresce no recorte por raça para pretos e pardos.

Com mais tempo investido nos cuidados da casa e de familiares, é comum buscar jornadas de trabalho mais flexíveis. “Mulheres que necessitam conciliar trabalho remunerado com afazeres domésticos e cuidados, em muitos casos, acabam por trabalhar em ocupações com carga horária reduzida”, diz o IBGE.

A proporção das que trabalham em período parcial, de até 30 horas, é de 28,2%.

Em relação aos rendimento­s médios do trabalho, mulheres recebem cerca de 3/4 do que os homens ganham.

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