Ações do Exército ignoram áreas de milícias
Operações militares no Rio nos últimos sete meses miraram apenas territórios dominados por facções criminosas
Com novo perfil, grupos paramilitares recrutam jovens pobres, adotam leis próprias e buscam mais lucro que ordem
- Cerca de 900 militares das Forças Armadas retornaram à favela da Vila Kennedy, na zona oeste do Rio, na manhã desta quarta (7), para destruir barricadas construídas pelo crime organizado.
A ação ocorreu dois dias após helicópteros de redes de TV registrarem imagens de barricadas reconstruídas após terem sido destruídas por tropas do Exército. Essa é a quarta vez que as Forças Armadas ocupam a Vila Kennedy em menos de duas semanas. quantidade de convidados.
Em Santa Cruz, na zona oeste, há relatos investigados pela Promotoria de que traficantes pagam propina aos milicianos para poderem atuar livremente. Milicianos passaram a cobrar também R$ 40 mensais pelo gato de luz e ágio sobre galão de água.
A busca pelo lucro está se sobrepondo ao desejo pela ordem, afirmaram à Folha quatro pessoas envolvidas em investigações sobre milícias.
No ano passado, a Draco apurou denúncia de que grupos cobravam até R$ 800 por semana dos operadores de vans clandestinas em Bangu.
“Eles passaram de uma falsa polícia comunitária a quadrilhas de extorsão pura e simples”, afirmou Jorge Furkim, promotor do Gaeco. CARROS ROUBADOS Uma das novas características é a utilização pelas milícias de carros roubados. No fim de 2017, por exemplo, a Draco recuperou oito carros na favela Bateau Mouche, na Praça Seca, na zona oeste, dominada por milicianos.
Em Nova Iguaçu, na Baixada, há suspeita de que milicianos estejam envolvidos também no roubo de cargas.
O grupo que atua na vizinha Duque de Caxias, por exemplo, se especializou no roubo de combustíveis da Reduc, a refinaria da Petrobras.
O caso mais marcante de mudança é que nas milícias da zona oeste, as mais antigas do Rio, quem chefiava até 2017 era egresso das fileiras do Comando Vermelho.
Os exemplos dificilmente seriam observados nos anos 2000, quando as milícias eram encaradas como braço informal do poder público.
De março de 2010 até fevereiro passado, ao menos 375 pessoas foram denunciadas por crimes relacionados a milícias. Somente no ano passado, 40 foram presas por envolvimento com esses grupos.
Quem não compactua com a milícia é expulso ou desaparece. Do fim de 2015 até agora, ao menos sete pessoas entraram no serviço de proteção à testemunha por ameaças de milicianos.