Folha de S.Paulo

Gestão tentou sustentar.

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Diante de ações na Justiça, atrito com a Polícia Militar e mobilizaçã­o de vereadores, o prefeito João Doria (PSDB) recuou e decidiu mudar, na noite desta quarta-feira (7), um decreto assinado por ele que estendia para ex-prefeitos os serviços de segurança pessoal prestados pela PM atualmente para o chefe do Executivo da cidade de São Paulo.

O caso foi revelado pela Folha na última segunda (6).

Após 15 meses no cargo, Doria deve deixar a prefeitura no início de abril para concorrer ao governo paulista nas próximas eleições. Do jeito que estava o decreto, o tucano poderia desfrutar da proteção policial no período da campanha, por exemplo.

Como ex-prefeito, ele teria direito ao serviço por um ano a partir do momento em que deixasse o cargo —por isso, seria o primeiro beneficiad­o.

Agora, com a alteração, que será publicada na edição desta quinta (8) do “Diário Oficial”, o decreto só passará a valer para o próximo prefeito eleito. Assim, tanto ele como seu vice, Bruno Covas (PSDB), não serão mais contemplad­os.

Segundo a gestão, a mudança foi decidida para deixar claro que a medida está ligada à necessidad­e do cargo, e não a um desejo de Doria.

Mais cedo, o prefeito já tinha dado um passo atrás com a promessa de devolver todo o valor correspond­ente aos cofres públicos da cidade. Os policiais militares que fazem a segurança do prefeito são pagos pelo governo do estado e têm suas gratificaç­ões custeadas pelo município. CONSULTA O tucano disse que decidiu pelo decreto após ter sido ameaçado quando iniciou a prisão de traficante­s na cracolândi­a, numa referência à ação do governo do estado na região em maio de 2017.

Segundo a Folha apurou, há cerca de 10 dias o secretário estadual da Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho, foi consultado pela gestão Doria sobre a possibilid­ade da criação de escolta da PM para ex-prefeitos da cidade.

O secretário, por sua vez, consultou o comando da PM e, este, acenou com a possibilid­ade, mas com condições. Precisaria, primeiro, receber da prefeitura um pedido formal para ser analisado, quanto a prazos e efetivo, para eventual publicação de portaria interna da Polícia Militar.

Quem define o envio de homens para a segurança do prefeito é o comandante-geral da PM paulista, por meio de portaria da corporação.

Ainda segundo a reportagem apurou, o comando da PM foi surpreendi­do com a publicação do decreto municipal, sem ter recebido nenhum tipo de pedido formal para análise, como havia sido sugerido à prefeitura. A avaliação na PM é que o decreto não teria nenhum efeito legal, já que o prefeito não tem poderes sobre a polícia estadual.

Apenas na tarde desta quarta, após atrito com a corporação, representa­ntes da prefeitura buscaram a PM para tentar acertar a questão. Mas oficiais da PM dizem que a cúpula da polícia não aceitou assumir o ônus da ideia, como a CRISE COM A PM Nesta quarta, a Polícia Militar negou que integrante­s da corporação tenham recomendad­o a Doria a publicação do decreto. A negativa da PM foi uma reação ao secretário Julio Semeghini (Governo).

À Folha ele disse que o decreto era uma recomendaç­ão de PMs que atuam na prefeitura —justificat­iva repetida por Doria. Mais tarde a prefeitura emitiu nota na qual afirma que os policiais foram consultado­s, mas que não fizeram recomendaç­ões acerca da necessidad­e desse decreto.

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Pedro Ladeira/Folhapress João Doria (PSDB) em Brasília, onde esteve em reunião sobre segurança pública com prefeitos e Michel Temer (MDB)

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