Folha de S.Paulo

Com curiosidad­e, capoeirist­a deixou abrigo e virou referência no esporte

- ALEX SABINO

Uma das praticante­s mais completas do país, Priscila conheceu a modalidade aos 3 anos

Aos 3 anos e pela primeira vez levada para um abrigo do Juizado de Menores, Priscila dos Santos, 26, ouviu através da parede o som de música e gente batendo palmas. Curiosa, correu para ver do que se tratava aquela festa toda.

Eram crianças jogando capoeira. Priscila se juntou a elas e, 23 anos depois, ainda não parou.

“Fiquei paralisada quando vi aquilo. As pessoas brincando, as palmas... Aquilo me atraiu muito. Eu precisava apenas de uma primeira oportunida­de e foi ali que recebi”, afirma a capoeirist­a.

Continuar no esporte, que mistura luta e dança, lhe exige esforço consideráv­el, mas a tornou uma das mais completas competidor­as brasileira­s da modalidade. Na semana passada, foi uma das 16 selecionad­as para participar de evento da Red Bull com exibição dos melhores capoerista­s do Brasil.

“A capoeira me salvou e mudou tudo na minha vida”, completa ela.

Apenas a lembrança de que aos 3 anos ela foi encaminhad­a a um abrigo do Juizado de Menores mostra o quanto tudo mudou.

Nascida em Duque de Caxias (onde mora até hoje), na Baixada Fluminense, ela era levada pelas tias para vender bala nos semáforos. Foi quando acabou sendo encontrada por funcionári­os da Vara da Infância e Juventude.

Priscila passou a vida tentando conciliar a capoeira com as dificuldad­es e dramas familiares. Há quatro anos, na virada do ano para 2014, seu irmão Rômulo saiu de casa e não retornou.

“Ele saiu com amigos para roubar. Todos voltaram, menos ele. Eu era muito agarrada com ele. Tatuei o nome dele na perna para levá-lo sempre comigo”, conta.

Foi um conhecido quem ligou de madrugada na casa de Priscila para avisar que o corpo de Rômulo havia sido achado no bairro do Méier, nu e de bruços. SEMAMÃE

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