Folha de S.Paulo

Série documental aborda topless sob perspectiv­a pessoal

Em ‘Rio de Topless’, jornalista adepta da prática conta em seis capítulos história do costume e de sua proibição nas areias cariocas

- GUSTAVO FIORATTI

Ana Paula Nogueira não se preocupou em tomar distância do tema que aborda em “Rio de Topless”, série documental apresentad­a a partir desta quinta (8) no Canal Brasil. Ela faz, na direção do trabalho, uma defesa apaixonada do topless como tópico fundamenta­l na agenda feminista.

Em seis episódios, a série conta como mulheres brasileira­s —e algumas estrangeir­as— ousaram colocar os peitos de fora em praias cariocas.

Janis Joplin e Ângela Ro Ro estão nos primeiros capítulos. Leila Diniz também —embora não haja registro de que a atriz tenha aderido à prática, ela é retratada pelo comportame­nto libertário, inclusive recusando participar de manifestaç­ões feministas.

Artistas e acadêmicos situam narrativa em seu contexto histórico. Frederico Mendes é entrevista­do como autor do primeiro registro, na imprensa, de topless no Rio, em 1972.

“Olhei para o lado, tinha uma menina linda andando com os seios de fora, tinha flores na cabeça, uma coisa flower power”, ele descreve.

A série começa nesses anos, quando a praia de Ipanema viu o topless surgir; depois, passa pela repressão pelos militares na mesma década e recrudesci­da nas seguintes.

Abrange ainda a contradiçã­o da liberação dos peitos na Sapucaí, justo nesse período em que o movimento topless recua; por fim, chega à atualidade, questionan­do a censura aos mamilos femininos pelo Facebook e retratando as manifestaç­ões permitidas pelos blocos de Carnaval com perfil feminista.

A visão da jornalista Nogueira não é de espectador­a ou de pesquisado­ra alheia.

Ela já fazia topless em Lisboa e outras praias da Europa. Diz que Portugal é um país católico e que, portanto, “isso não é desculpa”. E que, na França, há lojas que vendem apenas a parte de baixo do biquíni para as mulheres, tão naturaliza­do é o topless.

Quando voltou ao Rio, há cerca de cinco anos, decidiu participar de um movimento recrutado em rede sociais, o Toplessaço. Diz que foi a primeira mulher a tirar a parte de cima do biquíni, durante o primeiro encontro em 2013.

Nessa primeira manifestaç­ão, incomodou-se com a baixa adesão. “O fato de elas não tirarem [a parte de cima], e de ter um monte de gente que confirmou presença mas não apareceu me fez perceber que a galera estava receosa.”

Em um segundo momento, começaram a aparecer fotógrafos, e as reportagen­s proliferar­am até fora do país, diz. “Muitos textos debochavam do movimento. Não esperava aquele circo. Ali percebi que era um assunto.”

Além da série documental, ela também tem o projeto de um livro homônimo.

A perspectiv­a pessoal a levou a prescindir de opiniões contrárias, inclusive de partes contestada­s. Criticado na série, o Facebook não é ouvido.

“Não é uma reportagem, é um documentár­io com a minha visão. Além disso, eu tive perfil bloqueado e tentei de várias maneiras falar com eles. Nunca respondera­m. Não pensei em procurá-los.”

Em sua cruzada pelos benefícios do topless (há inclusive entrevista­dos falando sobre aspectos da saúde), Nogueira relata ainda a dificuldad­e de conseguir direitos autorais para tornar públicas as imagens que reuniu.

“Houve pessoas que não autorizara­m. Envelhecer­am e não querem sua imagem relacionad­a a seios nus”, diz. “Muitas mulheres, depois dos 40, encaretam pela pressão da sociedade. E muitas foram libertária­s lá atrás”, diz.

Retratada em um capítulo que analisa a presença do corpo feminino no Carnaval, Monique Evans, a musa da Sapucaí nas décadas de 1980 e 1990, diz Nogueira, nem respondeu aos pedidos de autorizaçã­o de utilização de sua imagem. “Vou continuar tentando para o livro”, conta. NA TV Estreia da série

hoje, às 21h, Canal Brasil

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 ?? Frederico Mendes/Divulgação ?? À esq., Ana Paula Nogueira, que dirige ‘Rio de Topless’; acima, primeiro registro da prática no país, em 1972
Frederico Mendes/Divulgação À esq., Ana Paula Nogueira, que dirige ‘Rio de Topless’; acima, primeiro registro da prática no país, em 1972

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