Folha de S.Paulo

Versão da Broadway, novo musical ‘Peter Pan’ aposta em efeitos de voo

Espetáculo que estreia hoje em São Paulo é a primeira montagem brasileira do original de 1954

- MARIA LUÍSA BARSANELLI

Para se preparar para o protagonis­ta e seus voos, ator Mateus Ribeiro fez aulas de ginástica artística

O menino que não queria crescer acabou alçando voo. Estreia nesta quinta (8), em São Paulo, “Peter Pan, o Musical”, com direção de José Possi Neto. Trata-se da primeira montagem brasileira do original da Broadway, de 1954.

É adaptado da obra do escocês J.M. Barrie (1860-1937), sobre um garoto que se recusa a crescer e sua aventura com os irmãos Wendy, John e Michael na mágica Terra do Nunca.

A versão brasileira —autorizada a captar R$ 16,6 milhões via Lei Rouanet— parte da criação americana, mas com algumas mudanças.

Tradiciona­lmente interpreta­do por uma mulher, devido ao registro vocal e ao tipo físico do garoto, Peter Pan ficará a cargo de um ator. É a segunda vez, desde 1954, que um homem faz o papel (a primeira foi com o americano Jack Noseworthy).

Aqui, o protagonis­ta ficará a cargo de Mateus Ribeiro, 24. Selecionad­o entre cerca de 4.000 candidatos, ele decidiu investir num preparo físico antes das audições.

Ribeiro se inspirou na americana Cathy Rigby, primeira intérprete do musical e dona de uma aclamada carreira de ginasta. Fez quase dois meses de aulas de ginástica artística, que intercalav­a com os ensaios de outro trabalho, o musical “2 Filhos de Francisco”.

“Acordava às 5h30 e ia pra aula às 7h. Depois ensaiava das 14h às 22h”, lembra ele, que ganhou repercussã­o quando integrou o musical “Cabaret” (2011), protagoniz­ado por Claudia Raia.

Possi, que também dirigiu “Cabaret”, lembra que a atriz não queria um elenco de baixa estatura. “Claudia é imensa [tem 1,79 m], falou para não pegar gente cotoco”, diz o encenador. “Mas quando ela viu o Mateus [que tem 1,67 m] foi um negócio.”

Em “Peter Pan”, o treinament­o físico de Ribeiro serve em especial para os efeitos de voo que permeiam a peça.

Os cabos são todos operados manualment­e por seis pessoas nas coxias. Podem ser presos apenas nas costas dos atores ou nas duas laterais, como é o caso do protagonis­ta, para dar mais flexibilid­ade de movimentos.

“O voo parece leve, mas você precisa estar com a musculatur­a inteira trabalhand­o”, diz Bianca Tadini, que interpreta Wendy e também assina, com Luciano Andrey, a tradução da montagem.

“Mas o pior é a cadeira [estrutura colocada debaixo da roupa para prender os cabos]. Temos que dançar com uma espécie de equipament­o de rapel”, comenta Ribeiro.

O ator, que busca em seu personagem “um garoto com muitos defeitos, mas com quem a gente tem empatia”, é responsáve­l por um dos efeitos de voo sobre a plateia. O outro fica a cargo de Sininho, aqui interpreta­da por uma atriz (Mariana Amaral) —no original, a personagem é apenas um ponto de luz.

É um trabalho bastante físico, mesmo para quem não alça voos, dado o grande número de danças e lutas.

O coreógrafo Alonso Barros chegou a pedir mudanças na partitura para modernizar os movimentos. Reforçou a percussão em trechos como o dos indígenas da Terra do Nunca. “Trouxemos um som até do nosso maculelê”, diz. VERSÕES Conta-se que Barrie cresceu envolto no trauma da morte do irmão, e sua obra foi marcada por sentimenta­lismo. Foi no contato com filhos de uma amiga que teria se inspirado para “Peter Pan”. Os personagen­s surgiram primeirame­nte no romance “O Pequeno Pássaro Branco” (1902) e depois numa peça teatral (1904).

As versões da história foram mudando ao longo do tempo pelo próprio autor e também ganharam diversas interpreta­ções: do conceito de imaginação infantil fértil ao escapismo, a rejeição do real.

“Existe até uma mais sombria que diz que Peter Pan sequestrav­a as crianças”, conta Daniel Boaventura, intérprete de um Capitão Gancho “menos vilão e mais cômico” e coprodutor, com Renata Borges, da montagem. O ator baiano, que nos últimos anos se dedicou à carreira de cantor, retorna ao teatro musical depois de cinco anos, quando fez “A Família Addams”.

Mas a produção brasileira se volta mesmo ao lado lúdico da história. “Num momento em que Peter luta com o Gancho, ele diz: ‘Eu sou a juventude, sou a alegria, sou a liberdade’. É o sonho do homem eterno, de estar sempre jovem e ser livre”, diz Possi.

Para tanto, aposta nos efeitos, não só de voos, mas também de projeções. Para o crocodilo, temor do Capitão Gancho, já que comeu sua mão, decidiu-se trocar o boneco antes manipulado por um ator. No espetáculo, o réptil é mecânico, feito de uma estrutura similar a um carro de kart. QUANDO qui. e sex., às 20h30, sáb., às 16h e 20h, dom., às 17h; até 15/7 ONDE Teatro Alfa, r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. (11) 5693-4000 QUANTO R$ 50 a R$ 210 CLASSIFICA­ÇÃO livre

DE SÃO PAULO

Em setembro passado, o coreógrafo Wagner Schwartz se viu envolto numa polêmica após sessão de “La Bête”, espetáculo em que está nu e é manipulado pelo público.

Um vídeo da apresentaç­ão no MAM paulista, com uma criança tocando sua perna, viralizou. Ele foi acusado de pedofilia e diz ter recebido quase 150 ameaças de morte. Só há pouco decidiu falar do caso.

Nesta quinta-feira (8), participa de uma mesa, na MITsp, sobre a mediação das artes com o público.

“Sensação de ódio escorre pela vida offline”, diz Schwartz à Folha (leia íntegra na versão online). No fim do mês, apresenta espetáculo no Festival de Curitiba com artistas alvos de polêmicas. (MLB) Folha - Há confusão entre a representa­ção e a realidade?

Wagner Schwartz - A confusão é um grande mal que beneficia as perversida­des políticas, causa hemorragia midiática e atrai facilmente a atenção das pessoas na vida online e na vida offline. Por que não comentou a polêmica sobre ‘La Bête’ à época?

É impossível falar no momento em que você é torturado. Na semana seguinte, recebiumaf­rase,atribuídaa­Sêneca, de um internauta: “Grandes injustiças só podem ser combatidas com três coisas: silêncio, paciência e tempo”. O sr. foi ameaçado de morte?

Agressores têm vontade de matar, destruir e fazer desaparece­r aqueles que não se encaixam nos programas de seus candidatos à Presidênci­a.Comolidar?Trabalhand­o. Circularam na internet até boatos de que o sr. teria morrido.

“Fake news” transforma­m a vontade dos “haters” em imagem. Realizam, na vida online, o desejo de violência. A sensação do ódio escorre pela vida offline, construind­o a sensação de medo e inseguranç­a no espaço público. Vivi essa morte. E, estranhame­nte, senti o luto de ver meu próprio corpo morto na tela.

DEBATE - MITSP

QUANDO qui. (8), às 14h; grátis ONDE Itaú Cultural, av. Paulista, 149; transmissã­o via mitsp.org

 ?? Lenise Pinheiro/Folhapress ?? Os atores Mateus Ribeiro (voando como Peter Pan), Henry Gaspar, Luis Prudencio e Bianca Tadini (Wendy) durante ensaio do musical no Teatro Alfa
Lenise Pinheiro/Folhapress Os atores Mateus Ribeiro (voando como Peter Pan), Henry Gaspar, Luis Prudencio e Bianca Tadini (Wendy) durante ensaio do musical no Teatro Alfa

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil