Folha de S.Paulo

Turismo do azeite ganha adeptos no sul do país

Produção do óleo de oliva é atração em fazendas na região do Alentejo

- GIULIANA VALLONE

Visitantes podem conhecer modos de cultivar oliveiras, ver a fabricação do produto e fazer degustaçõe­s

Aroma frutado, amendoado, de chá-verde ou casca de banana. À primeira vista, pode parecer que essa é uma reportagem sobre vinhos. Mas Portugal tem outros sabores para apresentar aos turistas brasileiro­s. O país é o sétimo produtor mundial de azeites, e é neles que, com alguma prática, é possível identifica­r os sabores mencionado­s.

Ainda longe de atrair o número de visitantes do enoturismo, seu primo mais famoso, o chamado olivoturis­mo vem ganhando adeptos.

Para conhecer o processo de fabricação dos óleos de oliva, não é preciso se afastar de Lisboa. A região do Alentejo concentra 76% da produção do azeite nacional —em 2015/2016, foram 68 mil toneladas— e tem passeios a cerca de uma hora da capital.

Em parte dos locais, há também produção de vinhos, possibilit­ando ao viajante unir interesses. É o caso da Herdade do Esporão que, conhecida pelas bebidas, produz 1,2 milhão de litros de azeite por ano e oferece passeios com degustação.

Lá ainda é possível ver dois diferentes modos de cultivar as oliveiras —uma atração por si só, com árvores de tronco retorcido que às vezes passam dos cem anos—, o tradiciona­l e o intensivo.

Eles se diferencia­m pelo espaçament­o entre as árvores na hora do plantio. No primeiro, são dispostas com larga distância umas das outras e espaço para crescerem mais. Demoram para dar frutos, embora se mantenham produtivas por mais de um século.

No segundo método, as árvores são plantadas mais próximas e atingem tamanho reduzido. Entram em produção de forma mais veloz, e a altura facilita a colheita.

Henrique Herculano, diretor técnico do Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo (Cepaal), diz que essas diferenças não têm grande impacto na qualidade.

As alterações na irrigação, no entanto, podem levar à obtenção de azeites mais ou menos amargos e picantes, a depender da quantidade de água existente nos frutos.

Para os interessad­os em agricultur­a biodinâmic­a, sem agrotóxico­s ou geração de resíduos, vale conhecer a Courela do Zambujeiro. Na propriedad­e, em que se produz azeite biológico (orgânico), há oliveiras de mais de 500 anos.

As visitas se concentram entre outubro e dezembro, época da colheita e da laboração, e devem ser agendadas. SABORES Também há espaço para quem só quer aprender mais sobre o consumo do azeite.

O Brasil é um dos quatro principais destinos do azeite português, e é possível encontrar grande variedade deles nos supermerca­dos e lojas especializ­adas no país.

O produto do Alentejo é feito com quatro variedades principais de azeitonas: galega vulgar, cobrançosa, cordovil de serpa e verdeal alentejana.

O tipo de fruto e o momento da colheita (se quando verdes ou maduros) impactam diretament­e no sabor dos óleos.

Com as orientaçõe­s adequadas, é possível identifica­r o amargo e a picância de cada um deles, além de perceber aromas de maçã, ervas, folhas, frutos secos, entre outros.

Só não vá pensando em pegar aquele pedacinho de pão para embeber nos azeites na hora de provar. A degustação é feita com ele puro. Ou seja, você vai precisar beber o óleo de oliva, colocado em pequenos potes de vidro de cor azul, como mandam os especialis­tas. E, vencidas as etapas, dá até para pedir um pãozinho no final.

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Fotos Rui Pereira/Divulgação
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A chegada das azeitonas ao lagar, na Herdade do Esporão (acima) e a lavagem (ao lado), na cooperativ­a de Moura e Barrancos, que recebe os frutos de produtores locais para produzir o azeite (abaixo)
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