Folha de S.Paulo

Delfim Netto é alvo de buscas da Lava Jato

Ex-ministro teria recebido R$ 15 mi de contratos fictícios ligados a Belo Monte; defesa diz ter sido por consultori­a

- ANA LUIZA ALBUQUERQU­E GÉSSICA BRANDINO

Segundo delatores da Odebrecht, ele recebeu 10% por ajudar a estruturar o consórcio que tocou a obra

A 49ª fase da Lava Jato, deflagrada nesta sexta (9), colocou em evidência supostas fraudes na licitação que definiu as empreiteir­as responsáve­is pela construção da usina de Belo Monte, no Pará.

O consórcio Norte Energia, que venceu a disputa em 2010, teria pago R$ 150 milhões em propina para o PT, o MDB e o ex-ministro Antônio Delfim Netto, 89. O caso foi revelado pela Folha em 2016.

A defesa de Delfim diz que os pagamentos foram em razão de consultori­as prestadas.

O montante que teria sido repassado pelas empreiteir­as correspond­e a 1% do valor do contrato. Desta quantia, o PT e o MDB teriam recebido, cada um, R$ 67,5 milhões. Os outros R$ 15 milhões, ou 10% da propina, segundo o MPF (Ministério Público Federal), foram destinados a Delfim.

De acordo com os procurador­es, o governo federal agiu para direcionar a licitação a favor do consórcio. O ex-ministro Antônio Palocci teria sido o porta-voz do governo federal na solicitaçã­o do pagamento de propina aos partidos políticos e a Delfim.

Segundo a investigaç­ão, a propina foi repassada às legendas por meio de doações eleitorais oficiais. O suposto pagamento de vantagens indevidas ao MDB no contexto de Belo Monte é apurado pela PGR (Procurador­ia-Geral da República), em inquérito que tramita no STF. O inquérito que investiga o PT está na Polícia Federal.

Denominada “Buona Fortuna”, a nova fase teve Delfim como alvo principal. A Polícia Federal efetuou mandados de busca e apreensão na casa, escritório e empresas do ex-ministro, em São Paulo.

Delfim, por ter ajudado a estruturar o consórcio, teria recebido os valores por meio de contratos fictícios de consultori­a firmados com a Aspen Consultori­a e a LS Consultori­a.

As empresas estão em seu nome e de seu sobrinho, Luiz Appolonio Neto, que também foi alvo de mandado de busca e apreensão. BLOQUEIO O juiz Sergio Moro determinou o bloqueio de cerca de R$ 4,4 milhões do ex-ministro, de seu sobrinho e das empresas administra­das por eles.

O montante correspond­e aos pagamentos identifica­dos em favor dos dois, realizados pelas empreiteir­as do consórcio. No caso da Odebrecht, esses repasses foram registrado­s no sistema de controle de propinas da empresa com o codinome “Professor”.

Em depoimento à PF de São Paulo, em agosto de 2016, Delfim afirmou ter recebido da Odebrecht R$ 240 mil em espécie, por meio de seu sobrinho.

O ex-ministro disse que o valor se referia a consultori­a prestada à empreiteir­a, sem contrato firmado.

Moro ressaltou, em despacho de fevereiro deste ano, que a Aspen não registrou empregados de 2005 a 2013 e que a LS Consultori­a registrou apenas um de 2011 a 2013.

O juiz afirmou que ambas receberam valores milionário­s de empresas envolvidas em esquemas criminosos, sem possuir estrutura compatível com a magnitude da prestação de serviços.

O Norte Energia era formado por oito empreiteir­as e pela Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco), que detinha 48,98% do consórcio. Para receber a concessão, o grupo constituiu a sociedade Norte Energia SA, cujos sócios de maior participaç­ão eram a Eletrobras (15%) e subsidiári­as, a Eletronort­e (19,98%) e a Chesf (15%).

As investigaç­ões indicam que o governo federal tinha interesse na vitória do Norte Energia porque queria manter a concessão da usina sob seu controle indireto, por meio da notória participaç­ão da Eletrobras e suas subsidiári­as.

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