Ex-ministro é figura influente há 5 décadas
Quando o assunto é o economista Antonio Delfim Netto, colunista da Folha, detratores e admiradores têm um denominador comum: poucos personagens mantêm capacidade de influenciar o debate público brasileiro há tanto tempo quanto esse paulistano nascido em 1928.
Homem multifacetado, ele personificou tanto o milagre econômico iniciado em 1967 e enterrado em 1973 quanto a debacle das contas públicas no ocaso da ditadura (1964-85) — quando o slogan “o povo está a fim da cabeça do Delfim” ganhava as ruas.
Assinou tanto o Ato Institucional número 5, que solapou liberdades civis em 1968, quanto a Constituição promulgada 20 anos depois. Nunca se arrependeu: disse que desconhecia a tortura e que os instrumentos do AI-5 ajudaram a organizar a economia.
Suspeitas no setor elétrico já o atingiram quando era embaixador em Paris. O “Relatório Saraiva”, assinado pelo adido militar da embaixada em 1976, citava uma suposta propina de US$ 6 milhões paga pelo banco francês que financiou a obra de Tucuruí para que fornecedores do país fossem favorecidos. Delfim sempre negou a acusação.
Voltou ao poder em 1979, passando pela Agricultura e reassumindo a Fazenda. Foi o período mais contestado de sua vida pública.
Dele, Delfim guarda uma coleção de caricaturas que exploravam sua figura obesa, estrábica e portadora de óculos de armação grossa.
É um grande frasista, mesmo quando não é o dono do aforismo, como no caso do “Primeiro é preciso fazer crescer o bolo, para depois reparti-lo”.
Cultivou amigos e inimigos. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ter “horror” a ele pelo seu papel na cassação do então deputado Mário Covas —o que Delfim, grande crítico de FHC, negou.
Deputado por cinco mandatos, ressurgiu com força nos governos petistas, dados ao desenvolvimentismo sempre associado a Delfim apesar da ironia da associação com um prócer da ditadura. Luiz Inácio Lula da Silva aproximou-se dele, e Antonio Palocci o ouvia frequentemente —a ligação que a Lava Jato apura entre os dois surgiu ali.
Dilma Rousseff também o consultava, apesar de no fim do governo ele ser crítico do voluntarismo da petista. É apoiador de primeira hora de Michel Temer.
Sua maleabilidade é apontada por críticos como sinal de oportunismo; apologistas veem maturidade.
Seja como for, de ícone do desenvolvimentismo a defensor de reformas liberais, de anticomunista a amigo do PT, Delfim mantém-se relevante.
Para bem e para mal: tendo escapado ao caso francês e ao escândalo CoroaBrastel, sobre financiamentos da Caixa nos anos 1980, o ex-czar da economia chega aos quase 90 anos nas manchetes da Lava Jato.