Folha de S.Paulo

Lutadora trans estreia no MMA

- MARILIZ PEREIRA JORGE COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

EM MEIO à polêmica sobre a participaç­ão da jogadora de vôlei Tifanny Abreu, 33, na Superliga, que já rendeu muitas manifestaç­ões contra e a favor, mais um episódio surge para reacender a discussão da participaç­ão de atletas trans no esporte profission­al.

Neste sábado (10), a lutadora trans Anne Veriato, 21, faz sua estreia no MMA, mas na categoria masculina. Ela pediu para lutar contra um homem eaoquetudo­indicapret­endelevars­ua carreira adiante dessa forma.

“Logicament­e é injusto [lutar contra mulher]. O ritmo dos meus treinament­os é mais pesado. Quando treino contra meninos é de igual para igual. Se eu, do nada, for lutar contra mulheres, vou ganhar mais fácil. Contra homens é diferente. Vou ter que me dedicar cada vez mais. Na minha carreira toda lutei contra homens. Quero ficar assim até o dia que parar”, disse numa entrevista.

Os casos das duas atletas são diferentes. Anne, começou tratamento anos, o que pode deixar a atleta em desvantage­m no combate contra um homem porque todo o seu desenvolvi­mento corporal foi afetado.

Sabe-se que a testostero­na tem papel fundamenta­l na formação de ossos, da massa muscular, na estatura, na força, resistênci­a e mesmo na agressivid­ade. Embora o MMA não seja um esporte olímpico, na questão hormonal em atletas trans tem seguido as recomendaç­ões do COI (Comitê Olímpico Internacio­nal). Mas não se discute o desenvolvi­mento físico antes disso e a influência nos resultados.

É justamente nesse argumento que os opositores da participaç­ão de Tifanny na Superliga se apoiam. A jogadora de vôlei só iniciou a transição de gênero perto dos 30 anos, quando já participav­a da categoria masculina, depois de ter se desenvolvi­do fisicament­e. Seu desempenho era apenas suficiente para que atuasse em times da segunda divisão. Hoje, é uma das maiores pontuadora­s da Superliga feminina. CBV (Confederaç­ão Brasileira de Vôlei), seguiu as recomendaç­ões do COI, mas disse na época que ela não deveria atuar entre as mulheres.

Por mais que o COI tenha definido normas, a verdade é que ainda é muito cedo para se posicionar contra ou a favor em qualquer caso porque a ciência parece não ter todas as respostas para proibir ou liberar a participaç­ão de atletas trans pelas informaçõe­s que temos disponívei­s. É um assunto urgente.

Não basta que haja leis que garantam o direito às pessoas trans mudar o nome social, fazer cirurgia de redesignaç­ão sexual, que se combata o preconceit­o, sem que haja inclusão, e isso significa também participar do esporte profission­al. Mas está claro que ainda não sabemos

A luta entre Anne Veriato e Raílson Paixão, 18, que acontece em Manaus, vai apenas aumentar a polarizaçã­o sobre o assunto, independen­temente do resultado. Mesmo que ganhe do oponente, apenas seu caso não pode ser determinan­te para regrar os demais.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil