Folha de S.Paulo

Por onde anda Marina?

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Recorrente nos meios interessad­os no debate político, uma pergunta mais uma vez se coloca face à disputa presidenci­al de 2018: por onde anda Marina Silva (Rede)?

Capaz de atrair mais de 22 milhões de eleitores no primeiro turno de 2014 —algo em torno de um quintodosv­otosválido­s—,aex-ministra do governo Luiz Inácio Lula da Silva obtém, segundo a mais recente pesquisa do Datafolha, 13% das preferênci­as em um cenário sem o nome do ex-presidente.

Já em 2010, quando teve desempenho apenas um pouco inferior, a então candidata pelo PV surgia como opção capaz de superar o tradiciona­l embate entre PT e PSDB pela hegemonia política no país.

Apresentav­a-se, ademais, quase como um caminho natural para a constituiç­ão do “pós-lulismo”, aliando uma respeitáve­l carreira na militância ambientali­sta com a crítica aos turvos comportame­ntos do governo petista.

Dada a dispersão de nomes ao centro na atual disputa e o desgaste de políticos tradiciona­is envolvidos em escândalos, a imagem de Marina Silva teria boas condições de obter destaque no momento.

Mas, com a saída de dois deputados federais, Alessandro Molon (RJ) e Aliel Machado (PR), a Rede Sustentabi­lidade já não se torna presença garantida nos debates televisivo­s entre os candidatos.

Pela regra em vigor, apenas quando uma sigla tem um mínimo de cinco parlamenta­res é obrigatóri­o o convite a seu representa­nte.

Muitos fatores, sem dúvida, explicam esse quadro inauspicio­so. Sem ocupar nenhum cargo eletivo, Marina Silva perde uma tribuna para manifestar-se. Enfrentou, ademais,seguidasdi­ficuldades­para organizar um partido próprio.

Sua aposta numa nova forma de arregiment­ação política —voltada, até mesmo na coleta de fundos, para o eleitor familiariz­ado com as redes sociais— tem conhecido resultados frustrante­s.

A aura de compromiss­o ideológico parece perder-se, assim, em oportunism­o. Tanto no que se refere ao recurso, que foi inevitável em termos pragmático­s, de filiarse a partidos diferentes em 2010 e 2014, quanto na visível dissolução dos aspectos mais marcantes de seu discurso em favor de uma agenda econômica liberal.

Os apoios a Aécio Neves (PSDB), no segundo turno de 2014, e ao impeachmen­t de Dilma Rousseff possivelme­nte terão alienado eventuais eleitores à esquerda, sem atrair os mais antipetist­as.

É cedo, claro, para prever o desenvolvi­mento da campanha presidenci­al. O lugar correspond­ente à “terceira via” continua desocupado, e Marina Silva até aqui não se mostrou capaz de preenchê-lo. RIO DE JANEIRO -

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