EUA levam segregacionismo à guerra às drogas, afirma jurista americana
DE SÃO PAULO
A jurista Michelle Alexander defende que, quando se trata de cor ou raça, a Justiça dos EUA está longe de ser cega e tem penalizado mais negros do que brancos por crimes de drogas, ainda que, segundo estudos, negros sejam tão propensos quanto brancosausarevenderdrogas. (FM) Folha - Quais as evidências de que a Justiça não é cega em termos de raça?
Michelle Alexander - Nos EUA, nós quintuplicamos a população prisional em algumas décadas. A maioria das pessoas levadas às prisões são pobres e negras, condenadas no contexto da guerra às drogas. Vários estudos já apontaram que negros são tão propensos a usar ou vender drogas quanto brancos. Ou seja, não deveriam ser mais culpados. Por que os EUA puniriam mais negros que brancos? caricaturava os negros]. Elas foram baseadas nos mesmos estereótipos: negros são inferiores, violentos e preguiçosos, portanto, precisavam ser separados dos brancos por lei em todos os aspectos da vida, do ônibus ao voto. Você defende que a guerra às drogas é um “novo Jim Crow”. Por quê?
O movimento pelos direitos civis dos negros conseguiu provar serem inconstitucionais essas leis. Mas também usou táticas de desobediência civil. Os conservadores e segregacionistas argumentavam que violar essas regras criava uma cultura de desordem e desrespeito às leis. E deu início a um clamor por “lei e ordem”, que legitimou um movimento linhadura das polícias e do sistema criminal, abrindo caminho para a guerra às drogas. o aumento do crime. Só que isso não tinha nada a ver com a liberdade conquistada pelos negros, e tudo a ver com o colapso econômico de muitas comunidades de trabalhadores e operários. Mas a resposta não veio na forma de investimentos, pacotes de estímulo econômico ou programas de requalificação profissional. No lugar disso encerramos a guerra contra a pobreza e lançamos a guerra às drogas, numa corrida por prender aqueles que havíamos deixado para trás. Criar ações afirmativas não é exatamente deixar para trás, não?