Folha de S.Paulo

Jogadores usam o Paulista como vitrine

Com apenas três meses de competição, atletas já procuram novas equipes para a sequência da temporada 2018

- ALEX SABINO LUIZ COSENZO

Torneio reúne casta de jogadores que vivem rotina de ida e volta para clubes pequenos do interior do estado

Quando novembro se aproxima, Neneca, 37, começa a se preocupar com o próximo ano. Sem a segurança de um contrato de longa duração em um grande clube, a sina do goleiro e de outros tantos jogadores é procurar novo emprego quando a temporada acaba. O Campeonato Paulista é sempre a salvação.

“O Paulista é uma vitrine, mas é uma pena durar apenas três meses. A maioria das equipes não tem calendário para o segundo semestre. Você já começa o ano com a missão de correr atrás de outra equipe. Amigos meus ficam desemprega­dos e eu mesmo estou ansioso para conseguir um novo clube”, afirma o goleiro que disputa a Série A1 do Paulista pelo Santo André.

Os estaduais são mais curtos neste ano por causa da Copa do Mundo da Rússia. O torneio é a vitrine para uma legião de jogadores de clubes no interior. Os três meses do Paulista de 2018 são a chance para centenas de atletas conseguire­m clubes para o restante da temporada.

“O Paulista é nosso ganhapão. Temos de fazer um bom campeonato porque não sabemos o que teremos no segundo semestre. Há muita gente que depois do Estadual vai ficar desemprega­da”, afirma Thiago Humberto, 32, meia-atacante do Linense.

É a terceira vez que ele disputa o torneio pela equipe de sua cidade natal, o que é outro fenômeno desta competição. Nomes que aparecem sempre no mesmo clube a cada ano se destacam e usam o Paulista como plataforma para obter um novo contrato.

Neneca também joga o Estadual pela terceira vez pelo Santo André. No total, disputou sete vezes a competição. A estratégia de usá-la para achar outro time para o resto do ano sempre da certo.

“A imprensa fala mal [do Paulista] por causa dos times grandes. Mas é um dos melhores torneios que existe. É quando o jogador que está no interior dá tudo para conseguir algo para o segundo semestre. Dá para imaginar o que seria dos clubes do interior se não existisse o Paulista?”, questiona Xuxa, 36, eterno destaque do Mirassol.

Neste domingo (11), termina a primeira fase da competição. No entanto, dos 16 times do campeonato, apenas os dois rebaixados encerram sua participaç­ão no torneio. Oito avançam para as quartas de final e outros seis disputam o Troféu do Interior.

A final da competição está marcada para o dia 8 de abril. Em 2017, o campeonato durou quase um mês mais. A decisão entre Corinthian­s e Ponte aconteceu em 7 de maio.

Ituano, São Caetano, Red Bull e Santo André, que não vão disputar nenhuma das quatro divisões do Brasileiro, terão como única opção de competição no segundo semestre a Copa Paulista, organizada pela FPF (Federação Paulista de Futebol) e deficitári­a para os clubes.

Não há premiação em dinheiro. A Ferroviári­a, campeã de 2017, teve prejuízo de cerca de R$ 50 mil mensais. O maior incentivo é a vaga na Série D ou na Copa do Brasil para o campeão —o vencedor escolhe que torneio deseja disputar no ano seguinte. VALE TÍTULO Nos últimos anos, os times pequenos têm conseguido bons resultados no Estadual, o que ajuda os jogadores a aparecerem ainda mais para o mercado nacional.

Desde 2010, cinco vezes clubes que não estão entre os quatro grandes do Estado chegaram à decisão: Santo André (2010), Guarani (2012), Ituano (2014), Audax (2016) e Ponte Preta (2017).

O único campeão foi o Ituano, que derrotou o Santos nos pênaltis. Destaque da campanha, o goleiro Vagner se transferiu para o Avaí e depois foi adquirido pelo Palmeiras. Ele está de volta a Itu.

Os jogadores dos clubes do interior reclamam que todos os olhos estão voltados para a realidade dos grandes clubes, mas eles também fazem parte de uma elite.

Levantamen­to da CBF mostra que, em todo o Brasil, a média salarial de 80% dos jogadores profission­ais é inferior a R$ 1.000 mensais.

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