Folha de S.Paulo

Docentes dos EUA criticam em manifesto cerco a cursos que falam em ‘golpe de 2016’

- SILAS MARTÍ

Cerca de cem professore­s das universida­des mais importante­s dos EUA, entre elas Brown, Harvard, Princeton e Yale, assinaram uma carta de repúdio ao que entendem como tentativa do governo brasileiro de “tolher a liberdade de expressão nas universida­des” do país.

O movimento “Acadêmicos e Ativistas pela Democracia no Brasil” tem como alvo a declaração do ministro da Educação, Mendonça Filho, de que mandaria investigar por improbidad­e administra­tiva o professor da UnB (Universida­de de Brasília) que criou um curso em que chama de golpe de 2016 o processo de impeachmen­t da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

“O pedido para que investigue­m o professor e o seu departamen­to é uma séria ameaça à democracia no Brasil”, afirma a carta do grupo endereçada ao ministro.

No rastro da polêmica, outras dez universida­des criaram disciplina­s que falam em golpe de 2016 —as aulas do professor Luis Felipe Miguel começaram há uma semana.

O manifesto foi organizado pelo americano James Green, professor da Universida­de Brown. Ele também assina outra carta, de diretores da Associação de Estudos Brasileiro­s, centro de estudos de brasiliani­stas, que ataca a ameaça ao curso e aponta “séria violação da liberdade acadêmica”.

“Somos todos pessoas que conhecem o Brasil e as ameaças à democracia que estão ocorrendo lá”, diz Green.

Fora do universo acadêmico, Green ficou conhecido no ano passado como o suposto namorado de Dilma quando foi visto com ela em passeios por Nova York —eles são apenas amigos, esclarece o professor, que é homossexua­l e militante dos direitos LGBT.

Questionad­o se a amizade com Dilma pode enfraquece­r o movimento, o professor disse que também é amigo do expresiden­te Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a quem dava carona em visitas à universida­de.

“Sou amigo de todo mundo no Brasil, menos do Jair Bolsonaro”, diz Green. “Há unanimidad­e contra esses tipos de repressão.”

Ele compara a situação, aliás, ao que houve durante a ditadura, quando FHC teve seu posto na USP cassado. Green escreveu um livro sobre como acadêmicos americanos nessa época tentaram ajudar os brasileiro­s.

“Esse governo está tomando medidas que vão na mesma direção da lei da ditadura que proibia qualquer atividade política dos estudantes”, afirma.

Nesse ponto, o nome da

 ?? Pedro Kirilos - 9.jun.2015/ Agência O Globo ?? O professor James Green, autor de manifesto contra MEC
Pedro Kirilos - 9.jun.2015/ Agência O Globo O professor James Green, autor de manifesto contra MEC

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