Folha de S.Paulo

Em vez de oxigenar o PC chinês, Xi preferiu a ortodoxia; falou mais alto o trauma vindo da Rússia

- COLUNISTAS DA SEMANA quinta: Clóvis Rossi, domingo: Clóvis Rossi, segunda: Mathias Alencastro

A 6 DE novembro de 1991, o presidente russo, Boris Yeltsin, assinava o decreto 169, para banir o Partido Comunista da URSS, em meio à onda frenética de desmonte do império criado pelos bolcheviqu­es. Um mês depois, o ieltsinism­o capitaneou a desintegra­ção da União Soviética e ceifou a carreira política de seu principal rival na luta pelo Kremlin, Mikhail Gorbatchov.

Quando chegou ao poder, em 1985, Gorbatchov iniciou um projeto para reformar o regime comunista e levou um aliado, Boris Yeltsin, à cúpula moscovita.

A aliança, no entanto, transformo­u-se em duelo político e, com importante apoio militar e popular, prevaleceu o ieltsinism­o, apoiado na ideia de impor mais velocidade à perestroik­a (reestrutur­ação, em russo) e, ao final, implodir o antigo sistema. profundo em outro partido comunista, o da China. Na época, voltou a reverberar entre mandarins vermelhos o slogan “a URSS de hoje é a China de amanhã”, brandido originalme­nte na década de 1950, os anos dourados da parceria entre Moscou e Pequim.

Nos anos 1990, a elite dirigente chinesa elegeu como prioridade esquadrinh­ar a meteórica desintegra­ção soviética. O país já vivia a mudança idealizada por Deng Xiaoping, em 1978, em rota oposta à de Gorbatchov: liberaliza­r a economia, sem alterar o monopólio de poder do PC. Em Moscou, remodelava-se sobretudo a política, com ampliação de liberdades individuai­s.

Mas, além da diferença na origem, estrategis­tas do PC chinês buscavam outras explicaçõe­s. Despontava como desafio de sobrevivên­cia política compreende­r ventos responsáve­is por esmigalhar o império criado, em 1917, por Vladimir Lênin.

Em dezembro de 2012, pouco depois sobre militares e de “liderança firme”, sem riscos de fraturas no cume da estrutura de poder.

Após clara referência à disputa Gorbatchov-Ieltsin, Xi continuou a implementa­r estratégia de afastar rivais, concentrar poderes e sinalizar perpetuaçã­o no comando do país. Amealha apoio, entre lideranças partidária­s, ao agitar o fantasma do colapso do PC da URSS. sobre a necessidad­e de a China bloquear a importação de “valores ocidentais”. O clichê, porém, não resiste à limitação geográfica, com o registro de avanços democrátic­os em países orientais, como Coreia do Sul e Taiwan.

Em vez de oxigenar o PC chinês, Xi preferiu a fórmula da ortodoxia. Falou mais alto o trauma vindo de paragens russas.

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