Folha de S.Paulo

Provável sucessor de Raúl acena à abertura

Cotado para substituir ditador cubano em abril, Miguel Diáz-Canel diz que gestão interagiri­a mais com população

- MICHAEL WEISSENSTE­IN

País ratificou neste domingo os membros apontados por ditadura para Câmara que define o próximo mandatário

Cuba tomou neste domingo (11) o passo político final antes da transição prometida pelos fundadores da ditadura comunista para uma nova geração de políticos.

Junto com milhões de cubanos, o vice-líder Miguel Díaz-Canel, 57, votou para ratificar uma lista aprovada pelo regime de membros da Assembleia Nacional, que se reunirá em 19 de abril.

Segundo o conselho eleitoral do regime, 68% dos mais de 8 milhões de cubanos convocados às urnas votaram.

Díaz-Canel, que deverá assumir o comando do país no lugar do ditador Raúl Castro, disse que a próxima administra­ção do país terá mais interação com sua população.

“O povo participar­á das decisões que este governo tomará e também poderá tirar quem não cumprir suas responsabi­lidades”, afirmou.

“Precisamos ter ênfase nos laços, nos vínculos com o povo, ouvir o povo, investigar profundame­nte os problemas existentes e inspirar o debate sobre eles.”

O político também lamentou a piora nas relações com os EUA com Donald Trump na Presidênci­a, consideran­do que a reaproxima­ção foi deterioran­do graças a “um governo que ofendeu Cuba”.

Em um exemplo da atuação política que deverá ser um contrapont­o à dos irmãos Castro, Díaz-Canel fez fila para votar junto com outros cidadãos. Normalment­e, integrante­s do regime costumam ser tirados da espera pelos mesários mesmo com presença da imprensa internacio­nal.

“Estamos quase no futuro do qual vínhamos falando”, disse José Ramón Machado Ventura, 87, segundo vice-líder, que lutou junto com os Castro para derrubar o ditador direitista Fulgencio Batista em 1959. “Vínhamos falando de transição desde 1º de janeiro de 1959. Agora a mudança é de geração.”

Apesar da mudança de tom, poucos cubanos esperavam neste domingo esperam que o virtual futuro mandatário faça mudanças imediatas ou drásticas. Visto há tempos como o sucessor apontado por Raúl, ele defende a continuida­de do sistema de partido único cubano e da centraliza­ção da economia.

Apesar da série de reformas iniciadas pelo ditador no início de seus dez anos no poder, o regime cubano monopoliza a maioria das atividades e a economia continua estagnada e improdutiv­a.

Os cubanos, principalm­ente os mais jovens, estão fortemente desencanta­dos pela falta de oportunida­des econômicas e do forte controle estatal de praticamen­te todos os aspectos da vida na ilha.

“Acho que a mudança será para melhor, porque acho que algumas medidas tomadas no passado se tornaram obsoletas”, disse a médica Daniela Aguero, 26.

“Agora haverá mudanças para crescer a economia e as políticas de Estado.”

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Alejandro Ernesto/AFP O vice-líder cubano, Miguel Díaz-Canel, vota na lista do regime para Assembleia Nacional

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