As moedas não dão expectativa de rentabilidade, mas o que a maioria espera quando compra é justamente o retorno financeiro
GUILHERME POTENZA
sócio do Veirano Advogados
A solução encontrada por algumas dessas empresas para levar os ICOs adiante em meio às incertezas regulatórias é o exterior. A OriginalMy, por exemplo, decidiu fazer a oferta na Europa, sem vender moedas no Brasil.
A Swapy Network, de empréstimos para empresas, aposta nas Ilhas Cayman e deixou de fora o Brasil. Outras, como a Lunes, que quer arrecadar recursos para investir em soluções de pagamento, miram os dois públicos.
Para Ricardo Rochman, coordenador do mestrado profissional da FGV (Fundação Getulio Vargas), os ICOs são uma inovação capaz de dinamizar o mercado, por simplificarem e baratearem a captação de investimentos de novas companhias.
DE SÃO PAULO
O interessado em participar de um ICO (oferta inicial de moedas, na sigla em inglês) deve procurar conhecer a empresa que faz a operação e estar ciente de que pode entrar em uma furada, caso o negócio não vá para a frente.
Se o objetivo for apenas usufruir de um serviço ou produto, é preciso ter certeza de que a empresa tem condições operacionais de entregar o prometido. Caso espere lucro com a revenda da moeda, precisa acreditar no potencial de crescimento do negócio, o que geraria aumento da procura pelo ativo.
“Tem que ver se as pessoas que estão emitindo são sérias, o que é o serviço que está comprando, se a empresa tem condições de entregar o prometido. O investidor pode perder 100% do dinheiro”, diz Thais de Gobbi, advogada do escritório Machado Meyer.
Gabriel Aleixo, pesquisador do ITS-Rio (Instituto Tecnologia e Sociedade), também recomenda que os investidores prestem atenção em quem são os empresários por trás do ICO e seus apoiadores.
“Quando a equipe que faz a captação tem uma trajetória consolidada, diminuem muito as chances de a operação ser enganosa”, afirma.
Também é recomendável não concentrar as apostas em poucas companhias, diz. Como os fundos que investem em startups, é importante escolher empresas de setores variados para diluir o risco.
Ricardo Rochman, coordenador do mestrado profissional da FGV, lembra que a maioria das empresas que fazem ICOs é novata e, por isso, tem futuro incerto.
Outras tantas não vão nem chegar ao fim do processo de ICO. Levantamento do site Bitcoin.com feito a partir da base de dados do serviço TokenData mostra que, de 902 ofertas globais, 142 fracassaram antes de levantar os recursos e 276 quebraram depois.
“Como se garante que o dono da empresa vai devolver o dinheiro se não der certo?”, questiona Guilherme Potenza, do Veirano Advogados.
Devido a esse risco, Rochman, da FGV, diz ser desejável que alguma autoridade proteja investidores, porém sem burocratizar demais o funcionamento dos ICOs.
Marcelo Miranda, presidente da corretora FlowBTC, sugere que o investidor, antes de participar de uma oferta, analise o whitepaper, que é o prospecto que possui as principais informações sobre o ICO, como objetivo e riscos. “É importante por mostrar detalhes sobre o diferencial do blockchain [tecnologia por trás das criptomoedas] e da moeda. Traz confiança.”
O empresário Rubens Meinstein, 46, investe em criptomoedas há dois anos e decidiu comprar tays, moedas da empresa Smart Taylor, por considerar bom o produto que a companhia quer criar. A startup desenvolve aplicativo para facilitar a compra de outras moedas, avisando cliente sobre oportunidades.
Ele diz ver as ofertas como equivalentes ao lançamento de ações na Bolsa. “É uma forma de apoiar um projeto em que acredito que poderá render algo no futuro.”