Folha de S.Paulo

O Brasil contra os ICOs?

- RONALDO LEMOS

O BRASIL é um país de renda média que às vezes se comporta como se fosse superpotên­cia econômica.

Um bom exemplo é a posição que estamos assumindo com relação aos chamados ICOs (Initial Coin Offerings). Esse tipo de operação é mais um desdobrame­nto das chamadas moedas virtuais. Funcionam como uma oferta pública de ações, na qual se oferece um token (tipo de criptomoed­a) atrelado a um produto ou serviço do emissor. Quem acreditar no emissor compra. Quem não acreditar não compra.

Os ICOs surgiram furando toda a regulação dos mercados de capitais. Para uma empresa vender ações em Bolsa, precisa passar por um processo longo e caro, inacessíve­l para startups pequenas.

Em um ICO, tudo é virtual e imediato. Perto de US$ 3 bilhões já foram levantados por meio deles. Graças à fluidez das criptomoed­as, há empresas que levantaram US$ 10 milhões, US$ 20 milhões ou mesmo nenhuma supervisão regulatóri­a. e publicou uma nota ao mercado com sua posição sobre o tema. Afirmou que nenhum ICO obteve dispensa de registro de oferta pública. Para bom entendedor, indica que a CVM poderá punir severament­e quem se arriscar a lançar um ICO no país sem passar por seu crivo.

Enquanto criamos barreiras para um problema que ainda nem existe no Brasil, outros países estão fazendo o contrário. Há uma disputa global para ver quem atrai mais ICOs. Enxergam neles a oportunida­de de investimen­tos.

É o caso da Espanha. O país não só não regulou ICOs como dispensou expressame­nte operações similares (como crowdfundi­ng) da necessidad­e de registro. Neste momento está discutindo conceder benefícios fiscais para empresas de blockchain (a matriz dos ICOs) que se instalarem por lá.

Outro exemplo é a Estônia. O país quer ser o primeiro a lançar um ICO nacional. Para isso, está trabalhand­o na criação de um token chamado Estcoin, que será oferecido ao mercado global. A Estônia, vale lembrar, vem sendo reconhecid­a e imitada por causa de sua estratégia Berkeley, na Califórnia, está trabalhand­o também no lançamento do seu próprio ICO. A ideia é transforma­r os títulos da dívida pública da cidade em ativos criptográf­icos, ofertando-os digitalmen­te pela internet para quem quiser comprar. Tudo isso sem burocracia e permitindo a entrada de pequenos investidor­es que possuam criptomoed­as, em qualquer lugar do planeta em que estiverem.

Enquanto isso, o Brasil age como se houvesse um frenesi global de pessoas procurando por ICOs brasileiro­s, o que demandaria uma regulação rápida e contundent­e. Não há. É o contrário. Precisamos trabalhar muito para tornar o país mais atraente para o mercado global de ICOs. Nesse sentido, o rufar de penas da CVM, mesmo que bem-intenciona­do, só atrapalha. RONALDO LEMOS

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