Folha de S.Paulo

Wall Street vê Meirelles como um mestre das finanças, mas sem carisma para ser presidente

- SILAS MARTÍ

DE NOVA YORK

Investidor­es que seguiram a caravana do ministro da Fazenda e presidenci­ável Henrique Meirelles por Nova York nos últimos dias não estão seduzidos, mas —por motivos bem práticos— sonham em ver o homem que chamam de tecnocrata e mestre das finanças instalado no Palácio da Alvorada no ano que vem.

Em encontros em hotéis de Manhattan e na Bolsa, Meirelles usou uma retórica às vezes empolada para vender o que chama de “visão de modernizaç­ão” do Brasil —empresário­s até acreditam nele, mas dizem que falta certo charme.

“Meirelles seria um candidato ótimo porque ele entende o funcioname­nto da economia e como fazer para gerar cresciment­o”, disse Ben Jackson, presidente da consultori­a Vision Brazil, que se reuniu com o ministro. “Mas penso que ele não tem o carisma de outros candidatos.”

Tanto que o discurso de Meirelles foi o menos empolgante de uma série de palestras para vender a economia brasileira num hotel de luxo em Manhattan. Enquanto ele gesticulav­a com as mãos e apontava para um telão com gráficos e números, o salão foi se esvaziando aos poucos.

No fim do encontro, o mi- nistro disse achar “normal” o volume de interessad­os nesse tipo de seminário e que a “receptivid­ade foi a melhor possível”, mas o que importava mesmo era a vontade de investir no Brasil que todos eles pareciam demonstrar ali.

“Tenho feito um número enorme de reuniões com investidor­es aqui”, disse Meirelles. “Uma coisa que me surpreende­u aqui é o número de representa­ntes de empresas globais que falam português, de gente que tem cada vez mais presença no Brasil e conhece as regras, portanto está indo muito bem.”

De fato, todos nos encontros, mesmo que não impression­ados com a pose do ministro, falam a mesma língua.

Segundo um estrategis­ta do Crédit Agricole, Meirelles é um mestre das finanças, mas falta carisma.

Dando já como certo que Meirelles não será eleito presidente, investidor­es gostariam de ver sua agenda econômica continuar no próximo governo, de preferênci­a com um candidato de centro.

“O problema com o cenário hoje é que muitas dessas mudanças ainda são embrionári­as e precisam de tempo para amadurecer”, disse Frederick Kahn, da consultori­a Metrica Investment­s. “Se a eleição for bem e essa agenda continuar, já dá para implementa­r mudanças de forma mais estruturad­a, que ficaria mais difícil de reverter.”

Ir bem, no caso das eleições, significa o país eleger alguém alinhado com Meirelles ou até disposto a manter o ministro à frente da Fazenda. Nesse cenário, o nome do tucano Geraldo Alckmin já está na boca de alguns deles.

“Ouvi que o governador de São Paulo está falando sobre novas políticas. Ele é um forte candidato também”, diz Yao Tong, da consultori­a LT Advisers, que trabalha atraindo empresário­s chineses para investir no Brasil.

Outros investidor­es concordam com essa avaliação, mas o problema é vencer o nervosismo e a ansiedade gerado pelo quadro político turbulento e a incerteza em torno da corrida presidenci­al.

“Há muito otimismo e investimen­tos em potencial, concessões de aeroportos, rodovias, ferrovias”, diz Dalton Makepeace, diretor da consultori­a Altios Internatio­nal.

“Mas existe muita hesitação por causa da Operação Lava Jato. Você olha o Wikipedia dessas pessoas falando aqui e vê que quase todos estão sendo investigad­os por fraude financeira, então isso ainda pesa.”

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William Volcov - 8.mar.28/Brazil Photo Press/Folhapress Henrique Meirelles (Fazenda) durante entrevista em NY, cidade em que se reuniu com investidor­es na semana passada

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